A imagem é poderosa e perturbadora: uma criança de sete anos, nua e coberta de queimaduras, corre desesperadamente pela estrada. Os seus olhos, brilhantes de dor e desespero, reflectem uma realidade cruel, enquanto o sol do Vietname brilha indiferente sobre a cena. Kim Phùc, a menina que se tornaria um ícone da luta contra a guerra, simboliza a tragédia de um conflito que, num instante, transformou a sua vida num pesadelo.
Esta fotografia, eternizada no tempo, é um alegado sobre a crueldade da guerra — um grito mudo que ecoa em cada canto do planeta, lembrandonos das consequências devastadoras que a humanidade inflige sobre si própria.
Num canto remoto do norte de Angola, outro menino nasce sob o peso do conflito chamaramno Luís. Sobrenome Fernando é oriundo de uma aldeia pequena e esquecida, sonha com um futuro além das fronteiras da sua terra natal. Ele estuda jornalismo num continente que não é o seu, movido por uma curiosidade insaciável e pela vontade de contar histórias.
O destino, na sua sabedoria misteriosa, leva Kim Phùc ao mesmo continente que acolhe Luís, onde eles se encontram. É nesse momento de conexão entre mundos distantes que surge uma linda e reveladora entrevista — um diálogo entre a dor e a esperança, entre a tragédia e a resiliência. A entrevista não é apenas uma conversa; é um encontro com a história.
Enquanto o jovem angolano escuta atentamente Kim, as suas palavras entrelaçam-se, revelando as cicatrizes deixadas pela guerra e a audácia da esperança que ressurge das cinzas. Ambos, um africano e uma asiática, descobrem que são irmãos na experiência humana.
Essa fraternidade, que ultrapassa oceanos e continentes, ilumina a capacidade de regeneração que reside em cada ser humano. Juntos, tornam-se mensageiros de uma verdade que precisa ser ouvida: a guerra pode ferir, mas não consegue apagar a essência da humanidade. É imperativo que essa entrevista, e a mensagem que dela emerge, sejam incluídas nos manuais escolares de Angola.
Após anos de uma guerra cruel, o país ergue-se em busca de um futuro de paz e esperança. Para as novas gerações, conhecer a história através dos olhos de Luís Fernando — um angolano que viveu a dor da guerra e a força da resiliência — é fundamental. Através da sua narrativa, os jovens angolanos podem aprender não apenas sobre os horrores do passado, mas também sobre a possibilidade de um futuro melhor.
Esta entrevista com Kim Phùc é um testemunho do poder da empatia e da esperança. A mensagem que dela surge é crucial para que as novas gerações compreendam a gravidade das atrocidades da guerra e a importância da fraternidade.
A história de Luís Fernando e Kim Phùc deve ser perpetuada, pois, na luta contra a ignorância e o esquecimento, reside a verdadeira esperança de um futuro mais pacífico.
Por: WALTER PINTO LEITE