Na tarde do dia 4 de Dezembro de 2024, às 15h51, o Air Force One decolou do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, marcando o fim da histórica visita do Presidente Joe Biden a Angola.
Foi uma despedida carregada de simbolismo e promessas, em que cada palavra trocada e cada compromisso firmado ecoaram não apenas no continente africano, mas em todo o mundo.
A visita de Biden a Angola, a primeira de um presidente americano, representa um ponto de inflexão nas relações entre os dois países. Para Angola, prestes a celebrar 50 anos de independência, esta foi uma oportunidade de reafirmar a sua soberania e projectar um futuro pautado pela integração regional e pelo crescimento sustentável.
Para os Estados Unidos, foi a chance de renovar a sua presença estratégica em África, num momento em que as dinâmicas globais se redefinem entre novas potências emergentes.
O Presidente João Lourenço captou a essência da visita ao dizer: “Esta visita enterra um passado das nossas relações no quadro da Guerra Fria.” De facto, durante a segunda metade do século XX, Angola foi palco de disputas entre potências globais, onde os EUA e a então União Soviética apoiavam lados opostos de uma longa guerra civil.
Esta visita, mais de três décadas após o fim da Guerra Fria, foi um gesto claro de que os Estados Unidos estão prontos para reescrever essa narrativa, focando-se agora em colaboração e desenvolvimento.
Joe Biden, por sua vez, reforçou a visão optimista de um futuro compartilhado ao afirmar: “O futuro do mundo está aqui em África, em Angola.” As suas palavras não foram apenas retóricas; foram acompanhadas por compromissos concretos em áreas cruciais como energia limpa, segurança alimentar, infra-estruturas e integração económica regional.
No centro da visita esteve o Corredor do Lobito, uma infra-estrutura ferroviária estratégica que ligará Angola, a República Democrática do Congo e a Zâmbia ao Oceano Atlântico. Este projecto não é apenas uma via de transporte; é um símbolo da capacidade de África de liderar a sua própria integração e alavancar as suas riquezas para beneficiar a sua população.
Durante uma cimeira multilateral realizada em Benguela, Biden destacou o impacto transformador do Corredor do Lobito, tendo enfatizado que ele não apenas reduzirá os tempos de transporte, mas também criará empregos, impulsionará o comércio intraafricano e posicionará Angola como um elo central entre o Atlântico e o Índico.
Este projecto, fruto de uma parceria público-privada com empresas americanas e africanas, é um exemplo prático do que o presidente americano chamou de “investimentos transparentes e sustentáveis.”
Como bem lembrou Kwame Nkrumah, “O futuro de África depende de como controlamos as nossas riquezas.” O Corredor do Lobito é uma oportunidade para Angola demonstrar que está pronta para transformar o seu potencial económico em prosperidade compartilhada, garantindo que os benefícios cheguem às comunidades locais.
A escolha de Joe Biden de discursar no Museu Nacional da Escravatura, em Luanda, foi profundamente significativa. Ele reconheceu o papel de Angola na história da diáspora africana e a ligação intrínseca entre os dois países. Biden afirmou: “A história de Angola e dos Estados Unidos traz uma lição para o mundo: duas nações com uma história compartilhada no mal da escravidão humana, mas agora trabalhando lado a lado pelo benefício mútuo de seus povos.” Este discurso não foi apenas um tributo ao passado; foi uma chamada à acção.
Biden reiterou que a relação entre Angola e os Estados Unidos deve ser uma parceria de iguais, baseada em respeito mútuo e interesses compartilhados. Este é um desafio não apenas para os governos, mas para os cidadãos de ambos os países.
Para Angola, esta visita é uma chance de redefinir o seu lugar no mundo. É uma oportunidade de diversificar a sua economia, investir na capacitação da sua juventude e fortalecer instituições que possam sustentar o seu progresso. Como afirmou João Lourenço: “O progresso de Angola está nas mãos dos próprios angolanos.”
Para os Estados Unidos, é uma oportunidade de demonstrar que as suas palavras de compromisso com África são respaldadas por acções concretas. Num momento em que outras potências estão a expandir a sua influência no continente, os EUA precisam mostrar que o seu modelo de parceria é mais inclusivo, transparente e voltado para o longo prazo.
Os 28 minutos que Biden levou para descer do Air Force One e os 40 minutos que passou a conversar no aeroporto não foram meros protocolos; foram um reflexo da importância que os Estados Unidos atribuem a Angola. E ao decolar do “4 de Fevereiro,” o avião presidencial carregava mais do que um líder americano: levava consigo a promessa de uma nova era nas relações entre os dois países.
Esta visita, que começou com um gesto histórico, deve ser lembrada como o início de uma parceria que não apenas beneficia Angola e os Estados Unidos, mas serve de exemplo para o mundo. Como enfatizou Biden no seu discurso: “O futuro passa por Angola, por África. Não há nada além da nossa capacidade, se trabalharmos juntos.”
A primeira visita de um presidente americano a Angola foi mais do que um marco histórico; foi um momento de reflexão, reconciliação e renascimento. Cabe agora a Angola e aos Estados Unidos transformar o simbolismo desta visita em acções que tragam resultados tangíveis para as suas populações.
À medida que Angola se aproxima do seu meio século de independência, esta é uma oportunidade única de construir um futuro baseado em soberania, progresso e colaboração global. Como dizia Agostinho Neto: “O mais importante é resolver os problemas do povo.”
Este é o momento de garantir que cada promessa feita durante esta visita seja cumprida e que cada acção contribua para o bem-estar de todos os angolanos. Aos 49 anos de independência, Angola enfrenta o futuro como um viajante que, ao alcançar o cume de uma montanha, contempla pela primeira vez o vasto horizonte.
Este é o momento de escrever uma nova história, com coragem, dignidade e uma visão clara. O céu que viu o Air Force One partir é o mesmo que abriga os sonhos de milhões de angolanos.
Que esses sonhos se tornem mais do que esperanças; que sejam o alicerce de um futuro onde Angola, com cabeça fria, nervos de aço, foco e acção, se afirme como uma força incontestável no cenário global. Que este seja o princípio de uma história que inspire gerações.
Por: Edgar Leandro