O início de qualquer ano lectivo, em Angola, é igualmente um período de balanços constantes. Quase sempre, nesta fase do ano, surgem os questionamentos sobre o número de salas de aulas existentes, o ingresso de novos alunos e estudantes, assim como aqueles que, por razões várias, acabam por ficar fora do sistema de ensino.
Os que ficam de fora já se sabe que os seus encarregados de educação têm de recorrer ao ensino particular, onde há sempre vagas, mas os preços acabam por ser salgados para muitos deles.
Os que acabam por ingressar ao ensino público, apesar do surgimento de novas escolas, algumas delas construídas no âmbito do Programa Integrado de Intervenção aos Municípios (PIIM), surgem dúvidas sobre as condições que terão de enfrentar nas respectivas salas de aulas. Em pleno século XXI, infelizmente, ainda existem muitas escolas em condições precárias.
Sem estruturas sanitárias condignas, nem carteiras para que os mais novos e até adultos possam estudar sem constrangimentos. Quando mais novos, na década de 80 e até mesmo princípio dos anos 90, era comum observar-se escolas sem carteiras na cidade de Luanda, sobretudo na sua periferia.
O recurso às latas de leite vazias e pedras acontecia com a máxima normalidade, sendo então um privilégio para aqueles que conseguissem um destes objectos, às vezes até em disputas bastante acirradas.
À medida que o tempo se passa, tornava-se imperioso que imagens ou situações como as que enfrentamos no passado continuassem lá mesmo. Mas, contrariamente, vimos e assistimos a cenas que nos levam ao passado num presente cada vez mais doloroso.
Se há alguns anos se poderia imputar responsabilidades unicamente ao Executivo por incapacidade, na altura, de colocar carteiras para os alunos, hoje, em muitos casos, poderá amenizar-se as culpas, porque a própria sociedade também não tem conseguido proteger os bens que são colocados à sua disposição.
Um dos exemplos que atesta isso vem da Lunda- Sul, onde mais de mil carteiras escolares tinham sido furtadas pela população em diversas comunidades, o que fez com que os alunos acabassem por se sentar no chão e nalguns objectos ao longo do último ano lectivo.
Entre os que surripiaram as carteiras, mobiliários de escritório, quadro e outros bens estão os encarregados de educação, pessoas anónimas e até membros de congregações religiosas que acabaram por se beneficiar destes bens.
Claro que se pode criticar a falta de segurança nas instituições de ensino. Mas, ainda assim, não deixa de ser condenável que os próprios pais e irmãos, assim como outros integrantes das comunidades que se queixam efusivamente da falta de carteiras e outros bens nas escolas sejam eles próprios a furtar estes meios, colocando os próprios filhos e outros educandos em condições precárias com todos os riscos inerentes a isso.