Na poltrona, de pernas cruzadas, Vicente tinha os olhos jogados ao jornal que tinha em mãos. Há muito que lera os destaques e toda actualidade noticiosa.
Lia, no entanto, a página reservada a opinião, onde autor do texto reflectia à volta da redução de imposto implementada pelo Estado.
Após ler o parágrafo no qual o autor enfatizava o gesto solidário para com as famílias e, de igual modo, as vantagens da redução do imposto, Vicente pôs-se a rir, um riso triste, diga-se de passagem.
Lembrou-se de que, há tempos, o mesmo autor, anunciara naquela mesma coluna do jornal, as vantagens do aumento do referido imposto.
“Génio do meu tempo” satirizou Vicente que, em seguida, viu chegar o amigo poeta que, por sinal, tinha o nome semelhante ao imposto em discussão na coluna do jornal.
Vicente mirou para o rosto do amigo e notou que o mesmo carregava uma enorme tristeza, era como se o poeta carregasse sozinho as mágoas do mundo.
Vicente questionou-se sobre razões que trouxeram o amigo naquele estado e tão cedo à sua residência. Deixou-o aproximar-se e pediulhe que se sentasse.
O poeta sentou-se e jogou as mãos ao rosto, em seguida deixou a cabeça apoiada a poltrona. Vicente levantou-se, sentou-se junto dele e perguntou o que havia acontecido.
– Meu amigo – principiou o poeta – na noite passada, após nos separarmos, a caminho de casa, vi caminhar ao meu lado uma jovem com um semblante parecido a este que carrego neste exacto momento. Compassivo me ofereci a saber o que lhe havia acontecido, tal como fazes.
Ela, angustiada, contou-me que vinha da esquadra policial, que tinha ido reportar o desaparecimento da irmã que estava ausente de casa há alguns dias.
Meu amigo, por me conheceres, deves saber que tomei a iniciativa de fazer o que os agentes não fizeram. Acalmei-a e, por ser tarde, achei arriscado uma mulher caminhar sozinha àquelas horas. Ofereci-me a acompanhá-la até sua casa.
No interior da residência ela agradeceu e ofereceu-me um café.
Aceitei para aproveitar a ocasião e criar uma conversa para compreender a história e conhecer a pessoa a frente de mim.
A jovem contou-me que eram órfãs de pai, e acrescentou que a mãe casou com um homem que se recusou a estar com elas sob o mesmo teto.
Lamentei por elas e no decorrer da conversa o clima mudou. Ela achegou-se próximo a mim e passou-me a mão no ombro, começou por agradecer-me e entre os agradecimentos vi sua mão percorrer o meu peito.
Entendi o recado, foquei como nunca o seu rosto e percebi que não era feio, mas era diferente, tinha o buço polido e uma mistura de traços viris num corpo mulheril e delicado.
Eu me perturbei e nesta perturbação decidi pôr fim às minhas dúvidas. As minhas mãos tocaram-lhe os peitos vivos e de seguida percorreram o seu corpo atlético, penetrando, inclusive, no interior da roupa.
Vaguei mais adiante e ela disse-me que as coisas estavam a correr depressa demais. Lembro-me destas palavras agora, mas confesso que no momento não as escutei.
Fui teimoso, meu amigo, ou seja, as minhas mãos não obedeceram a minha mente. Ganharam vida própria e decidiram engatinhar até aquela região pubiana.
Mirei os olhos para o rosto dela e vi-a franzir a testa e morder os lábios com malícia. Era um misto de rejeição e assentimento, um misto de guerra e paz.
Decidido, optei por penetrar e lubrificar a região.
Fílo, meu amigo, mas para a minha surpresa, não havia porta, havia sim um pequeno segurança que foi agressivamente agredido pelos meus dedos à medida que dos meus olhos percorriam lágrimas de ódio e náusea.
Por: DITO BENEDITO