Já se adivinhava que um dia o Zango pudesse ser o centro da capital do país, Luanda. Apesar das reticências que alguns possam ter nesta fase, aos poucos este distrito – é assim que alguns dizem chamar-se – vai ganhando um estatuto diferente dos demais bairros que a província possui. Quem viu no final da década de 90 e princípios dos anos 2000, logo após os primeiros desalojamentos nas antigas barrocas da Boavista, em Luanda, estava longe de imaginar que o polémico local aonde os cidadãos eram levados e alojados se viria a transformar na nova ex-libris de Luanda.
As más bocas naquela fase indicavam até que se tratava de um projecto cujo rosto era um antigo responsável do Conselho Nacional de Carregadores, que pretendia estender um valiosíssimo empreendimento imobiliário que abrangeria um terreno para além daquilo que congregava um dos mais emblemáticos mercados a céu aberto do continente africano, o saudoso Roque Santeiro.
Surgiram, posteriormente, outras informações que davam conta de que a proximidade de alguns barracões com a residência particular do malogrado Presidente José Eduardo dos Santos, ao Miramar, também terá servido de mote para que se desalojasse inúmeros populares que viviam naquelas barrocas, sobre- tudo os que estavam no perímetro que dava para o sumptuoso imóvel deixado pelo segundo Presidente da República de Angola. Quando se estenderam as residências por esta zona de Luanda, o nome Zango ecoava para muitos com um determinado desprezo.
Não foi vão que movimentos cívicos, organizações não-governamentais internacionais e até partidos políticos da oposição se tenham mobilizado contra o gesto, incluindo figuras de proa que hoje acabaram por cantar as mesmas hossanas e corroborar com os ideais dos que estiveram por trás deste enorme projecto habitacional. Vários anos depois, o Zango é um dos mais concorridos espaços da capital do país. Não tem a dimensão económica dos maiores investimentos imobiliários, milionários e excêntricos que se fez no país, mas está longe de ser rivalizado até mesmo pelas maiores centralidades que foram erguidas anos depois do fim do conflito, quando se pediu uma mãozinha aos amigos chineses.
Não é em vão que hoje, quase que de forma brusca, viu-se nascer um Zango zero, Zango 1, Zango 2, 3, 4 e até o conhecido Zango 8000, uma das últimas centralidades erguidas no país e habitada, principal- mente por gente proveniente até dos mais emblemáticos bairros da capital. Se Luanda foi descrita durante muitos anos como sendo a casa comum de todos, não existirão mui- tas dúvidas de que o Zango nunca esteve longe disso. Apesar da forte pressão imobiliária que se observa em muitos pontos de Luanda – ou até mesmo no país- são vários os cidadãos, sobretudo jovens que olham para esta parcela do país como a solução para debelar a crise e os altos preços que se vão observando.
A dimensão que vai ganhando, felizmente, este bairro de Luanda, com quase tudo para ser urbanizado e organizado, clama apenas que se lhe dê as infra estrutruras que façam com que cada um dos seus mradores ou pessoas com interesse na zona se sintam bem. É só estradas, escolas, bibliotecas, habitação condigna e outras infraestruturas sociais que se espera. E nada mais. Muitos dos que lá vivem não exigem muito mais do que aquilo que o Executivo sempre mostrou ter condições de levar.