Esta será, certamente, uma semana memorável na relação entre Angola e a Zâmbia. Depois de o Presidente deste país, Hakainde Hichilema, ter estado entre nós durante a tomada de posse do seu homólogo João Lourenço, está de regresso para uma visita oficial, que lhe levará, inclusive, à província de Benguela.
Logo à sua chegada, de forma pragmática, quando questionado sobre as razões da visita e como se sentia por pisar o solo angolano, o líder zambiano puxou para aquilo que há muito se vem buscando nos estadistas africanos, principalmente quando está em causa as relações entre os países que integram este continente berço.
Disse Hichilema que se sentia em casa, ou seja, para ele quase que não há diferença entre estar no seu país e em Angola, devido às semelhanças entre os dois Estados, incluindo com as mesmas identidades genéticas e culturais.
Angola e a Zâmbia há muito que transportam uma história comum. Ainda estamos lembrados dos tempos dos chamados movimentos dos Não-Alinhados e das célebres vindas do malogrado Keneth Kaunda com os seus sempre vistosos lenços brancos que chamavam a atenção nas conferências ou mesmo em visitas oficiais.
Foi, por exemplo, na Zâmbia, propriamente em Lusaka, que se firmou o protocolo que acabou por levar Angola à paz em 1994 pelo então ministro das Relações Exteriores, Venâncio de Moura e o ex-secretário-geral da UNITA, Eugénio Manuvakola. Isso depois de José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi terem dado as mãos neste mesmo país, sob os auspícios do então estadista zambiano Frederick Chiluba. Pena que tempos depois o líder da UNITA tenha rasgado o acordo, ausentando-se da cerimónia oficial que iria remarcar a assinatura daquele que é hoje um dos instrumentos políticos mais importantes do país.
São poucas as vezes em que os líderes africanos exprimem satisfação como se ouviu do nosso visitante, dando até a impressão de que muitos deles se sentem mais à- vontade quando se deslocam à Europa ou América muita das vezes atrás das antigas potenciais colonizadoras. É o descaso ao continente que tem feito, por exemplo, que se descure até dos pontos comuns entre os Estados, preferindo muitas figuras de proa do continente escudar-se nas diferenças linguísticas para que não se cimentem as pontes ou restabeleçam a irmandade e a amizade que permanece entre os simples cidadãos destes países que conjuntamente compartilham dezenas ou centenas de territórios fronteiriços.
A velha máxima de que vizinho é família está patente na disposição manifestada igualmente pelo Presidente zambiano, que deverá encontrar-se ainda hoje com o seu homólogo angolano, João Lourenço, no Palácio da Cidade Alta.
Há muito mais que os africanos, sobretudo os países vizinhos poderiam aproveitar mutuamente. Há até espaços, oportunidades, produtos e conhecimentos que poderiam ser aproveitados sem enormes recursos como os dispendidos para se buscar noutros continentes. É isso que a Zâmbia pretende de Angola e não se coibiu de dizer o que pretende de facto. Espera-se que também saibamos o que desejamos dos nossos vizinhos aqui pertinho, que, apesar de não possuírem um terreno tão rico como o nosso, terão, com certeza, muito para nos ensinar e ajudar também.
Há soluções que muitas vezes estão à porta. Entre os nossos vizinhos, aqueles que a nossa cultura nos ensinou que devemos tratar sempre como família.