Deve ser uma tarefa difícil responder todos os dias por aquilo que é feito pelos agentes e outros integrantes da corporação. Quem dera que fosse o contrário, mas, infelizmente, assim não é se se tiver em conta a sequência de comunicados, desmentidos ou esclarecimentos sobre as várias ocorrências no dia-a-dia protagonizadas pela Polícia Nacional.
Se não forem os actos, muitos deles involuntários, come- tidos nas acções diárias com os cidadãos, surgem informações de agressões ou até mesmo mortes em que estejam envolvidos os seus efectivos
Para quem percebe as dinâmicas policiais, em muitos países do mundo onde os níveis de criminalidade podem não ser preocupantes, mas exigem cuidados, muitas das situações que se tornam polêmicas poderiam até ser menosprezadas.
Mas, como se vive numa fase de humanização total, em que os direitos fundamentais devem estar na linha da frente das pretensões de qualquer Estado, há quem pense que só se deve usar cacetetes, mesmo naqueles momentos em que os efectivos da Polícia Nacional enfrentam meliantes com um forte poder de fogo real.
Até aqui, por incrível que pareça, há quem pense que se deva oferecer também chocolates e rebuçados. É uma vida ingrata a que os porta-vozes são submetidos. Vir a público justificar frequentemente o que aconteceu ou então o que não deveria ter acontecido.
Mas como se responde, por exemplo, a uma denúncia de que um agente da Polícia esteja a ser acusado de ter violado, a noite toda, dentro de uma esquadra, uma cidadã que só procurava segurança depois de se ter visto livre de uma situação complicada?
Não há na vida um sentimento pior do que a mensagem que esta situação acabou por criar.Aqueles que têm a missão de nos proteger estarão a ser mais perigosos, ultrapassando até os meliantes que muitas das vezes estão fora das cadeias.
O estrondo causado pela informação da violação numa esquadra fez com que vários segmentos da sociedade se sentissem repugnados pela tamanha barbaridade. E ainda bem que a Polícia Nacional, ontem, através de um comunicado do seu Gabinete de Comunicação, garantiu que o acusado já se encontra detido para que se apure a verdade dos factos.
Já vimos agentes da Polícia acusados de furto, roubo, altos responsáveis de se terem locupletado de altos valores e outros até supostamente envolvidos em esquemas mais ardilosos. Mas violar uma cidadã em plena esquadra deve ser das piores aberrações de que nos lembraremos no presente ano. É extremamente arrepiante.
Por delitos mais insignificantes os cidadãos foram brindados, através da comunicação social, com imagens de agentes e outros oficiais que acabaram expulsos em parada – outros até submetidos a práticas mais humilhantes.Não repugnaria nada para muitos se o agente detido, caso se prove que tenha mesmo violado a senhora, também venha a merecer uma condenação pública de ex- pulsão da organização para inibir os demais integrantes da corporação.