Mesmo sem citar nomes, a tese de que ‘o cabrito come onde estiver amarrado’ deve ser um daqueles princípios que continuam a colher adeptos de vários estratos sociais. A cada dia que passa, independentemente da cor política ou credo, são vários os angolanos apanhados nesta teia. Para muitos, a tese da sobrevivência, num país que ainda vive inúmeras dificuldades, tem sido o mote para se livrarem de quaisquer acusações que depois possam surgir.
Há pastores que não conseguem e sucumbem perante os dízimos dos fiéis que poderiam servir outras causas. Professores que também fazem das suas e enfermeiros ou médicos que ainda assim também não se libertam das tentações que a vida lhes vai proporcionando. O relato assustador da última semana de que um alto responsável de um hospital público na Huíla, que se dedicava ao furto de materiais para vender numa clínica, foi a prova provada de que essa coisa de cabritismo ultrapassou grandemente os limites aceitáveis.
Não há como no caso da Huíla, que deve existir também noutros pontos do país, assim como noutras instituições do sector público, aceitar que indivíduos que já tenham atingido o topo da liderança ajam como cabritos porque lhes falta o que comer ou beber. O que poderia parecer uma heresia em determinados países, em Angola, aos poucos, vai-se tornando algo normal. E a forma como muitos gestores e responsáveis de determinadas instituições lidam com aquilo que parece ser de todos é assustadora.
E o cabritismo, uma tese cujos autores até já não se encontram entre nós, é das coisas aberrantes que deveria merecer dos angolanos uma séria repulsa. Infelizmente, para muitos é aplaudido como se devesse merecer destaque entre os muitos angolanos, alguns dos quais são extremamente prejudicados por causa desta prática.
Nunca fez tanta falta neste país, como agora, os programas de resgate dos valores morais. Roubar a alguns para se enriquecer nunca deveria merecer aplausos. Nunca. Pena que entre nós há quem aplauda este tipo de comportamentos. Muito do que condenamos aos políticos e governantes, para alguns é permitido, incluindo amarrando cabritos, criando com isso uma sociedade cada vez mais distante dos valores que nos possam levar ao bem comum.