Quase todos os anos, sem excepção, é notória a correria que se observa para a entrada na função pública. Os sectores da saúde e educação são aqueles que mais registam o aumento de profissionais, principalmente os mais jovens, alguns dos quais encontram sobretudo no ensino a saída para colmatar o desemprego em que vivem.
As referidas vagas, como se tem observado, nos dias que correm são preenchidas maioritariamente por gente jovem e licenciada. São eles que dão corpo aos recursos humanos que se vão constituindo nas escolas do primeiro e segundo ciclo — e até nas instituições de ensino superior — e nos postos de saúde, centros médicos e hospitais de referência que vão sendo inaugurados, como, por exemplo, o do Bengo, feito ontem pelo Presidente da República, João Lourenço. Para muitos, sangue novo implicaria necessariamente a criação de um ambiente de trabalho mais modernizado, com nuances que iriam elevar a excelência nestes locais, ou seja, nas instituições de ensino e nas unidades sanitárias.
O que aumentaria ainda mais a confiança daqueles que lá se deslocam e confiam a educação e saúde dos seus próprios familiares. Há dias, quando numa sala de aulas um cidadão, que não se identificou, questionou alunos de várias salas se sabiam o que era um transferidor, mas nenhum deles tinha conhecimento de que objecto se tratava, doeu-me a alma. Para quem se formou no tempo da outra senhora, era quase impossível não saber a utilidade da referida ferramenta.
De igual modo, hoje quando se vai a um hospital, cuja equipa é composta sobretudo por gente jovem, e assiste-se a métodos de atendimento que se assemelham a práticas dos tempos de antanho, também fica difícil perceber o que o chamado sangue novo vai endossando em alguns estabelecimentos onde se apresentam em números avultados como candidatos a um lugar.
Ontem, durante a inauguração do Hospital do Reverendo Pereira Inglês, o Presidente João Lourenço realçou que “se pretender que o sistema de saúde em Angola, neste momento, seja perfeito é exigir demais”.
Por sistema, entende-se um ‘conjunto de elementos interdependentes de modo a formar um todo organizado’. No caso da Saúde e da Educação, teríamos, por exemplo, toda a plêiade de integrantes e condições que possibilitam com que as referidas máquinas funcionem.
Se se tiver em conta os inúmeros problemas que se viveram — ou ainda se vivem nos referidos sectores —, o tempo e as condições que vão sendo colocados à disposição de alguns exige, sim, que algumas instituições de ensino e centros de saúde, por exemplo, apresentassem alguns resultados positivos que fossem até ao encontro das reivindicações que os sindicatos destas duas classes vão fazendo.
Os níveis de desencanto por parte dos utentes, assim como o descrédito que se vota a determinadas escolas públicas, indicam que até mesmo aqueles jovens em quem se depositam esperanças de que possam fazer o melhor também já vão demonstrando indicadores que nos devem levar à reflexão. As negligências médicas e outras, que envolvem sobretudo profissionais jovens, são casos que chegam a mostrar que há quem entre para determinadas instituições e acaba domado até pelos espíritos que sempre fizeram com que víssemos as instituições públicas como menos produtivas e nalguns momentos pouco exemplares.