Ordens superiores e segredo de Estado devem ser as duas frases que mais terão imperado num dado momento em Angola.
Qualquer funcionário público, líder de organização e, sobretudo, dirigentes de instituições que deveriam prestar informações aos cidadãos as usavam sempre que quisessem esquivar disso.
Foi assim que muitos se viram livres de questões desconfortáveis ou se afastavam de acções inspectivas.
Mesmo que não tivessem qualquer cunho estatal ou orientação dos principais responsáveis do Estado, foram dezenas ou até mesmo centenas de dirigentes públicos que usavam este expediente.
E assim muitos não prestavam contas, o que acabava, por outro lado, por lhes permitir a usar como quisessem os fundos públicos.
Mesmo que não tenha a mesma incidência hoje, ainda assim não espanta que exista quem se arrogue quando pode de usar qualquer das ditas ordens superiores, mesmo estando o país há mais de trinta anos num sistema democrático, embora se reconheça alguns avanços e também atrasos.
O certo é que, em democracias e em organizações onde a transparência impera, não se compadece com situações como a que vamos observando agora relacionadas com a Federação Angolana de Futebol (FAF).
Apesar de a Selecção angolana de futebol já ter regressado do Campeonato Africano de Futebol, que ainda decorre na Cote d’Ivoire, agora se joga nos bastidores e escritórios sobre os valores que terão sido entregues à equipa de Artur de Almeida para a empreitada em que os nossos jogadores foram bem-sucedidos.
Distante dos tempos das ordens superiores ou dos segredos de Estado em tudo quanto ocorresse, não cairia o Carmo nem a Trindade se antes mesmo da ida da Selecção à Cote d’Ivoire se soubesse quanto custaria a empreitada e os valores atribuídos pelo próprio Estado.
De igual modo, também não seria qualquer sacrilégio se as empresas públicas, Sonangol e Endiama, apontadas como também tendo financiado a operação da Selecção, pudessem em nome da transparência que se espera anunciar o que terão dado, caso isso tenha realmente existido. Estão em causa fundos públicos.
E não o contrário. A não divulgação acaba por ter efeitos nefastos, uma vez que se pode levantar especulações se se tratou somente dos valores apontados ou muito mais.
É vergonhoso até para o país hoje se estar a debater se se deu ou não dinheiro e em que moldes.
O Ministério da Juventude e Desportos fala em atribuição de fundos completos, enquanto a FAF diz ter recebido apenas uma tranche.
Da Sonangol e Endiama ninguém se manifesta. Não nos espantemos se no fim nos apercebermos de que o 1 milhão e 600 tenha saído na plenitude, mas algum chico-esperto tenha repartido para tirar vantagens.
Infelizmente, esse país já nos habitou a cenas rocambolescas. E mais uma não seria novidade alguma.