Um dos momentos bonitos de se ver é quando há exonerações e nomeações. Há sempre um clima de tristeza no caso dos exonerados e alegria naqueles que são nomeados, o que é quase normal num país como o nosso em que poucos são os que ousam colocar os cargos à disposição, independentemente dos casos com a justiça e outras polémicas em que possam estar envolvidos.
O bonito é ver quando são os adjuntos que ascendem aos lugares cimeiros, substituindo os titulares, não obstante os anos de trabalho em que estiveram juntos.
Na verdade, trata-se de algo normal. Porém, o engraçado muitas das vezes é ver os novos governantes, estes mesmos que durante anos estiveram na ‘back’, a realizarem as famosas reuniões de auscultação, percorrendo o país de lés-a-lés, conversando com os demais responsáveis com quem conviveram ou trabalharam largos anos.
Angola não tem sido excepção. Depois das nomeações assiste-se a um verdadeiro road show nos primeiros dias, uma actividade que algumas vezes acaba por se tornar enfadonha e pouco criativa dos proponentes, principal- mente daqueles que nunca estiveram dissociados dos referidos ministérios, governos provinciais ou outras instituições públicas.
Apesar dos meses, dias ou até mesmo ano, embora se admita que muita coisa mude neste período, o certo é que se muitos fossem revisitar as agendas de trabalho que sempre usaram, encontrarão, seguramente, apontadas as maiores ou menores preocupações que os populares, responsáveis de departamentos e outros técnicos sempre foram apresentando.
Espanta ainda nos dias que correm, infelizmente, ouvir comentários de indivíduos que dizem, em alto e bom tom, frases como ‘eles já sabem o que se passa aqui’. É assim que se sentem muitos dos indivíduos quando confronta- dos com as conhecidas jornadas que vão sendo efectuadas por muitos que sempre souberam de alguns problemas, participaram dos trabalhos para a criação de possíveis soluções e hoje se apresentam na pele de bombeiros.
Em muitas localidades deste país, tanto nas periférias, zonas urbanas ou até mesmo naquelas mais rurais, sente-se, em muitos casos, a urgência na criação de condições de facto para a melhoria da vida dos populares, proporcionando-lhes excelentes cuidados de saúde, educação, estradas, energia eléctrica e até acções viradas para cultura e desporto.
Quase 50 anos depois da independência, julgo existir até mesmo momentos em que algumas inaugurações por exemplo deveriam ser menos pomposas se se tiver em conta o tempo de espera em que muitos dos beneficiários de determinados serviços aguardaram para ver os seus desideratos atingidos.
Tempos houve em que a parte mais importante na deslocação de determinados responsáveis e dirigentes, independentemente das acções que desenvolvessem, eram os convívios. Bastava olhar para os convites, numa altura em que a nossa economia crescia com muita pompa, e eles tinham no final uma habitual frase que arrastava multidão: ‘haverá cocktail’.
Há momentos em que parece ser necessária a existência de uma nova cartilha em que muitos se deveriam guiar.É preciso revisitarmos a forma como também se gasta, às vezes, mais dinheiro público na auscultação de acções que quase já se conhecem ou projectos engaveta- dos. É preciso que muitos se coloquem na pele de quem deve resolver ou procurar encontrar as soluções para os problemas que perduram no tempo e menos papo para o bem de quem até exerce, por exemplo, o um serviço público. E há muitos projectos dos antecessores que pode- riam até ser desenterrados para o bem do país