Fizesse jus ao nome e teríamos, em Luanda, um bairro onde todos os cidadãos gosta- riam de habitar. Afinal, quem não gostaria um dia de chegar ao paraíso, sendo este o desígnio de muito boa gente que quase todos os dias ajoelha-se para pedir ao criador uma oportunidade para que chegue ao local onde se acredita que incialmente foi habitado por Adão e Eva.
Confinado numa fronteira entre Cazenga e Cacuaco, Luanda viu nascer nos finais dos anos 80 e 90 um bairro cujo nome é mesmo Paraíso. Lar de muito boa gente, ainda assim o Paraíso está longe deste nome, o que faz com que muitos dos seus habitantes abandonem o espaço na primeira oportunidade que lhes aparece. Há muito que os cidadãos foram clamando por uma maior intervenção das autoridades, sobretudo para debelar os graves problemas de segurança, tendo em conta que os habitantes são praticamente submetidos a uma espécie de estado de sítio diariamente.
A Polícia diz estar a fazer o seu papel, mas o certo é que os números apresentados são assustadores, com os mora- dores a avançarem que pelo menos mil residências se encontram abandonadas por conta da insegurança. À semelhança de outros bairros de Luanda, edificados nos últimos anos pelos cidadãos para debelar a escassez de habitação, o Paraíso também foi o escape destes no âmbito da auto-construção, mas sem que se respeitassem os arruamentos e outras situações que poderiam oferecer aos moradores uma maior condição de habitabilidade.
E foi no Paraíso que o governador de Luanda, Manuel Homem, montou o seu quartel general nos últimos dias para se inteirar da situação em que se encontra o bairro e buscar soluções para se ultrapassar alguns dos males que aquela circunscrição vive. Não se trata de uma situação fácil, nem se acredita que Manuel Homem tenha uma varinha mágica que num curto espaço de tempo lhe permita resolver os mil e um problemas que os habitantes do Paraíso vivem.
Ainda assim, só o facto de ter lá esta- do acalenta as vozes críticas e vai de certa forma influenciar, positivamente, os seus responsáveis na busca de soluções para os males que ainda vivem. Por mais pessimista que se possa ser, ainda assim estamos convencidos de que a ida do governador ao Paraíso acabará sempre por ter consequências positivas. Mesmo que não haja fundos e mundos, o certo é que da auscultação feita pelo governante resultarão medidas que poderão impactar, positivamente, na vida dos milhares de cidadãos que fizeram deste bairro de Cacuaco a sua morada.
Depois da operação Paraíso, claramente que o governador abre um precedente. Os habitantes de outros bairros de Luanda, muitos dos quais com os mesmos problemas e dificuldades, também irão clamar pela sua intervenção directa para se solucionar mui- tos dos males de que vivem. Afinal, Paraíso é só um bairro nesta Luanda em que vivem cerca de 10 milhões de habitantes.