Sempre que se falou de corrupção, o sector da construção civil em Angola acabou por ser um dos visados. Suspeitas de sobre-facturação, assim como concursos que acabaram por favorecer empresas inexperientes figuravam sempre no rol de informações procuradas pelos jornalistas e também pelos investidores de universidades e organizações não-governamentais nacionais e estrangeiras. Um dos últimos relatórios da Universidade Católica de Angola, por exemplo, indicava que centenas de milhões de dólares norte-americanos acabaram por sair do país pela porta da construção civil. Não é em vão que este sector continue a ser um dos mais apetecíveis, sobretudo quando há contratos para a edificação de infraestruturas públicas, tanto ao nível da capital como no interior.
A construção de estradas foi sempre o filemignon. Na fase da reconstrução nacional, em que o país havia sido transformado num autêntico canteiro de obras, segundo o então Presidente José Eduardo dos Santos, não foram poucos os governantes, sobretudo, que estiveram associados às grandes empresas, outros até acusados de receberem propinas para favorecerem os mais próximos na concessão de empreitadas.
Curiosamente, foi nesta fase também que muitos destes empreiteiros, desde as grandes obras às mais pequenas, com maior realce para determinadas províncias no interior e muitos municípios, quase que mandavam bugiar as próprias autoridades quando não cumprissem os prazos acordados.
Apesar das ameaças que eram feitas de que seriam levados ao tribunal, muitos dos empreiteiros nem sequer se sentiam intimidados nem incomodados. Alguns até se davam ao luxo de zarpar para as Europas ou Américas da vida, como diria o grande Bonga Kwenda, depois de receberem os primeiros pagamentos.
O certo é que muitos dos governadores provinciais ou administradores municipais nem levavam as empresas à Justiça. Perdia-se o rasto destes e, concomitante- mente, do próprio dinheiro público, que acabavam por ser investido no estrangeiro pelos responsáveis destas empresas e seus comissionados.
Há dias, em Viana, mostraram-me as obras de uma escola abandonada porque se acredita que o empreiteiro terá fugido para o exterior, depois de receber os primeiros pagamentos. Trata-se de uma obra enquadrada no PIIM, mas, diga-se, devem ser poucos os empresários nos diversos ramos que se têm atrevido em agir como no passado, porque os tempos vão mostrando que há um maior controlo por parte das autoridades ou que obriga a uma maior responsabilidade dos próprios empresários.
Nos últimos dias, por exemplo, tem havido da parte do Executivo rescisão com alguns dos empreiteiros por causa dos incumprimentos. Anteriormente, ficava- se pelas ameaças, porque se acreditava piamente que muitas das empresas que ‘recebiam’ as obras em determinadas localidades acabavam por ser próximas a muitos governantes ou pessoas próximas.
Em Benguela, segundo apurámos, houve nos últimos dias o afastamento de algumas empresas por incumprimento. Em Malanje, um secretário de Estado ameaçou um dos construtores, dando inclusive um prazo para que se entregue a empreitada. E aqui no Cazenga, em Luanda, a vala que provocou a morte de um menino no início da presente época chuvosa viu o seu empreiteiro também encostado às boxes, devendo o lugar ser ocupado por uma nova empresa. Quando se quer, é possível, sim, corrigir o que estava mal.