Num mês dedicado exclusivamente à juventude, seria como um sacrilégio se o Presidente do MPLA e os seus principais responsáveis não trouxessem à mesa os problemas que enfermam este segmento da população angolana. E ainda bem que assim foi. João Lourenço, durante o seu discurso de abertura, na reunião do Comité Central, que teve lugar ontem, Terça-feira, em Luanda, debruçou-se demoradamente sobre as questões prementes e as necessidades destes, tendo focado principalmente o desemprego, o bicho papão no seu consulado, que o próprio na pele de Presidente da República referiu, em entrevista, como sendo uma grande ‘dor de cabeça do seu Executivo’.
Sem evitar farpas ao seu principal adversário político, no caso a UNITA, que há mais de 31 anos reclama de todos os resultados eleitorais e vota contra o Orçamento Geral do Estado, o facto de se ter escolhido como tema da reunião ‘O Impacto das Políticas Públicas no Seio da Juventude’ revela, claramente, a preocupação existente no conclave. Partidários ou não, uns conhecendo ou desconhecendo os problemas que afligem o país, que vinha de um período longo de recessão económica, mas o crescimento anda um pouco abaixo do crescimento vertiginoso da própria população, ainda assim o que os jovens esperam e querem rapidamente é uma ‘varinha mágica’ que resolva o principal problema: o desemprego.
Ao enunciar os projectos em curso e outros que serão lançados nos próximos tempos, não há dúvidas de que muitos deles poderão servir para frenar a procura galopante que se regista por um posto de trabalho, ainda que não seja o ideal para muitos. Ficou há muito provado que o funcionalismo público, onde ainda são incluídos vários funcionários de primeira viagem, maioritariamente jovens saídos das universidades, está longe de ser a solução para os nossos problemas. Aliás, todos os países mais desenvolvidos do mundo sempre apostaram em sentido contrário, reforçando o sector privado que hoje deu lugar às principais multinacionais que operam no mundo e outras empresas de relevo.
Os aeroportos, hospitais e refinarias poderão, sim, a curto prazo absorver um número considerável de jovens. Porém, à semelhança de outras realidades, apostas nas pequenas e médias empresas acabam por contribuir ainda mais pela capacidade resiliente de todas elas nas verdadeiras economias animarem o mercado, colocando cada vez mais funcionários à medida que o consumo aumenta.
Oito meses depois das eleições gerais, em que o Presidente do MPLA reafirmou terem sido vencidas pelo seu partido de forma transparente e livre, há tempo suficiente para que se comece a suavizar os principais problemas da juventude, onde a falta de emprego é acompanhada por outros como a habitação, saúde e até mesmo a inexistência de moradias para muitos deles. Contrariamente ao que pode parecer, a verdade é que varinhas mágicas não existem.
O que pressupõe que muitos destes dilemas são colmatados aos poucos, apesar das reivindicações que vão sendo feitas quase que diariamente. Porém, estas – as manifestações e outras reivindicações- podem ser afastadas ou minimizadas desde que se estabeleçam canais de comunicação, que muitas vezes parece não existir e que cria em muitos jovens uma espécie de orfandade e falta de esperança.