Bastou apenas um pequeno desabafo para que um país todo se apercebesse, na realidade, da hecatombe que viria depois.
Foi assim em Agosto do ano passado, quando o governador do Zaire, Adriano Mendes de Carvalho, num encontro com o Presidente João Lourenço, falou sobre o contrabando de combustível no território que dirige, pedindo, encarecidamente, que se fizesse algo no sentido de se contrapor a então realidade.
Passaram-se pouco menos de seis meses desde então. A verdade é que os números têm sido assustadores, com apreensões várias, algumas das quais indicam que havia um circuito devidamente afinado que lesava o Estado em largos milhões de kwanzas e dólares norte-americanos.
Até ao momento, segundo os números apresentados, já foram apreendidos mais de três milhões de litros de combustível, entre gasóleo, gasolina e petróleo, num esquema em que se acredita existirem fortes indícios de envolvimento de personalidades bem posicionadas a nível político, militar e policial.
Se, inicialmente, criou algum alvoroço quando o ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, general Pereira Furtado, disse que havia envolvimento de altas figuras, o que não se esperava era que, posteriormente, fosse o próprio Presidente João Lourenço a agitar ainda mais as águas.
Durante a abertura do ano parlamentar, na Assembleia Nacional, o Presidente da República apontou também o dedo aos políticos, muitos dos quais, acredita-se, poderiam ter estado naquela sala durante o discurso testemunhado por diplomatas e outros convidados.
Foram várias as apreensões efectuadas, cidadãos detidos, mas, ainda assim, continuam as operações para o desalento de muitos angolanos, alguns dos quais aguardam ansiosamente que se responsabilizem aqueles que parecem estar no topo do contrabando.
Apesar da pressão, aumentam todos os dias as denúncias e envolvimento de figuras no referido contrabando. Do outro lado, como acontece em Cabinda, por exemplo, muitos dos acusados acabam soltos por falta de provas, embora se saiba, à partida, da participação de alguns deles no próprio processo.
Cerca de seis meses depois do início deste combate, era expectável que existisse já matéria suficiente para se começar a levar às barras do Tribunal aqueles que vão verdadeiramente saqueando e se aproveitando deste contrabando com lucros anuais acima dos seis mil milhões de kwanzas, afastando o Estado de impostos e outros ganhos.
Caso contrário, muitos se verão livres da justiça e ainda se rirão daqueles que pensam estar a empreender uma verdadeira luta contra o fenómeno.