Acredito que não exista um dia em Luanda em que não aconteça um acidente envolvendo um mototaxistas. Gostaria de acreditar que não, mas os dados que nos chegam indicam que, pela forma como se apresentam e a normalidade com que abordam questões sérias, muitas das quais acabam por colocar em risco as suas próprias vidas, é impossível não traçar um quadro negro.
Há duas semanas, enquanto aguardava pelo esperado sinal verde para poder continuar a viagem num dos pontos da centralidade do Kilamba, eis que vejo passar numa velocidade das motos GP cinco jovens, quase sem iluminação alguma nos faróis, desrespeitando as regras de trânsito. E pior: cada um deles fazia-se acompanhar de um passageiro.
A forma como transpuseram os carros parados indicava, claramente, que para aqueles e, certamente, outros dos seus companheiros os sinais de trânsito não existem nas suas contas, podendo-se circular de forma livre, independentemente das consequências. Naquele dia, caso viesse em velocidade algum carro ou até mesmo motorizadas no sentido que tinha, verdadeiramente, prioridade para circular, com certeza que alguns entre os cinco iriam constar das estatísticas de feridos ou até mesmo mortos nos dados que são fornecidos regularmente pela Polícia de Trânsito. É uma pena que se tenha tentado travar a organização que se pretendia realizar a nível desta classe, entendida, inicialmente, por alguns sectores da própria sociedade como sendo somente uma violação ao princípio da livre circulação de pessoas de um ponto ao outro.
Apesar das discussões geradas em torno da actividade dos motociclistas e os receios evocados, sobretudo por conta do elevado índice de desemprego, ainda assim se impõe que se use a coercibilidade para que muitos destes jovens mototaxistas respeitem, no mínimo, as regras de trânsito, usem iluminação e outros equipamentos necessários para diminuir o impacto das lesões nos acidentes e, sobretudo, salvaguardem as suas vidas.
Quando se espoletou a questão da regularização e reorganização da actividade de mototáxi, vendeu-se, hoje de forma visível, a ideia de que se tratava somente de uma acção do Governo Provincial de Luanda e do seu responsável máximo, Manuel Homem, sem qualquer propósito maior. Houve até quem tivesse vindo com insinuações sobre supostas negociatas, originando a circulação de informações apócrifas em sites e outros meios virtuais.
O tempo vai-se encarregando de mostrar que estamos perante um problema extremamente grave, que deve ser encarado por todos. Isto mesmo: as igrejas, organizações cívicas, cidadãos anónimos e até aqueles que podem gozar de alguma influência junto deste segmento de cidadãos, que fazem do mototáxi o sustento, para que possam mudar de atitudes. É que ontem, depois de ter visto dois mototaxistas a embaterem-se, numa via com muito espaço para circulação, deixando um deles ferido, continuei a caminhada convencido de que muitos deles são mesmo autênticos kamikazes. E a sociedade não pode assistir impávido a este suicídio quase colectivo.