Nascemos e desde cedo aprendemos que no mundo havia o bem e o mal, branco e preto. Crescemos vendo coisas boas e más, ao mesmo tempo que nos foi sendo imposto, com ou sem fundamentos bíblicos, políticos ou psicológicos que é essencial respeitar a opinião contrária, concordemos ou não com elas.
É assim que nos lares se evidenciam sempre tendências contrárias, acabando posteriormente em concertações entre os seus integrantes. É assim, do mesmo modo, que vimos milhares a pleitearem a nível do desporto, onde se reconhecendo o melhor desempenho de um ou outro no final acaba-se por reconhecer a vitória, o empate ou até mesmo a derrota.
Infelizmente, na política não se consentem empates. Há, por mais que doa a um ou a outros, a necessidade de que haja um vencedor nos pleitos eleitorais, na votação de documentos a nível do parlamento, embora não se descure que nos bastidores existam jogadas políticas em que também são negociados processos ou projectos de lei que acabam por salvaguardar os interesses das principais organizações políticas.
Enquanto cresce e amadurece a nossa democracia, embora com enormes percalços, vai-se notando, infelizmente, o desconhecimento de muitos em relação ao respeito aos demais, principalmente aqueles que não comungam dos mesmos ideias políticos ou até mesmo cívicos.
Numa fase em que muitos apregoam mudanças, panelaços e até ‘black out’ nos locais de trabalho e outras áreas da nossa vida política, económica e social, torna-se difícil perceber que exista entre os defensores de tais teorias aqueles que fazem contrariamente tudo aquilo que não se configuraria como vantajoso num Estado de Direito e Democrático.
Tornou-se de algum modo perturbador absorver sem contestação o radicalismo que algumas milícias, sobretudo digitais, vão vendendo contra os que não comungam dos seus ideais. Mais do que supostas alternativas para movimentos que possam ocorrer num período de alternância ou até mesmo de vivência em quase pé de igualdade com os que ainda detêm o poder, pode estar a emergir movimentos ultranacionalistas mais radicais do que aqueles que dizem combater.
Não é possível fazer-se democracias sem democratas. E a liberdade de expressão e pensamento são duas das principais premissas que não podem ser coarctadas principalmente em espaços públicos, aquilo que hoje parece ser mais um palco de imposição de realidades supostamente dominadas em absoluto por um grupo que se julga detentor e defensor de toda a verdade: os fundamentalistas democráticos.
Muito longe do que se previa há alguns anos, quando se instaurou o sistema democrático, até o próprio debate hoje é condicionado. Nem tanto pelo status quo que se pretende manter, mas também por aqueles que se dizem lutar por um país melhor. Um país melhor em que eles próprios, à partida, não admitem sequer ideias contrárias, embora vendam aos quatro ventos o desejo e a convicção de serem os arautos de valores supremos como a liberdade de pensamento e de expressão. E ai de quem não comungue os mesmos ideais: bloqueiem-nos. E ponto final. E viva a democracia à nova moda!