Viver vários anos no Hoji Ya Henda, sobretudo naquela fase, na década de 90, em que começaram a surgir os conhecidos armazéns dos irmãos da África do Oeste e arredores foi também um momento que nos permitiu conhecer um pouco a realidade de muitos países africanos.
Alguns destes comerciantes, seus parentes e até famílias, acabaram por habitar em muitas residências vizinhas aos projectos que instalavam. Além da cultura, o dia-a- dia, sonhos e frustrações, convivendo com muitos destes cidadãos, consegue-se ter uma noção da realidade socioeconómica e política destes países. Várias vezes, incluindo em momentos de frustração, tentamos perceber as razões que faziam com que milhares de cidadãos destes países tivessem escolhido Angola como destino para a realização dos seus sonhos e dos seus parentes directos.
Os anos passaram-se. Felizmente, alguns destes ‘forasteiros’ conseguiram, sim, realizar os seus desideratos. Outros nem tanto. Há quem tenha preferido optar pela Europa, um destino almejado por muitos, embora outros pensem que seja mais fácil alcançar os seus objectivos aqui mesmo. Apesar do tempo, dos receios e de todos os adjectivos que se possa lançar em relação a Angola, o nosso país continua a ser um destino almejado por um grande número de africanos, americanos, europeus e asiáticos que todos os dias vão aportando.
Não é em vão que três meses depois de se ter isentado os vistos para cidadãos de mais de 90 países, o número vai aumentando consideravelmente, tendo atingido mais de 20 mil entradas. Trata-se de uma cifra que vai crescendo todos os dias. Evidenciando o interesse destes cidadãos em vários domínios, aproveitando as oportunidades existentes e outros para desfrutarem das belezas existentes, contribuindo para o aumento das receitas a nível do turismo. Infelizmente, enquanto muitos olham para o país com outros olhos, entre nós persiste o excessivo pessimismo, muitas vezes alimentadas por sentimentos que ficam difíceis de se poder esclarecer, talvez pela excessiva dependência de alguns aos países mais desenvolvidos, muitos dos quais independentes e com uma história de vários séculos. Por estes dias, discute-se a questão do turismo.
Há os que preferem de forma jocosa demonstrar não existir condições mínimas para que isso aconteça, como se isso fosse uma realidade. São os mesmos que nunca se inibem em espairecer naqueles lugares acessíveis, com estradas boas e capacidades de hospedagem de encher os olhos a todos, incluindo os nacionais. Embora se reconheça a necessidade de melhorar outras vias de acesso e terminar rapidamente as que estão em construção agora e a largos anos, o ideal seria que cada um pudesse ser um agente e promotor do turismo em Angola, vendendo a realidade e cabendo a quem vem escolher até aonde pode chegar.
Por mais que se tente desencorajar, Angola ainda estará acima de muitos países no continente — e quiçá no mundo —, capaz de oferecer serviços mínimos para atrair turistas. Se muitos percebessem o que milhares de turistas buscam num país como a Gâmbia, talvez não se tornassem os principais críticos dos investimentos e potencialidades que o Estado e privados têm criado no país.