Não me recordo exactamente do dia. Recordo-me, sim, que foi por razões familiares que uma manhã destas, do ano passado, dei por mim pelo Prenda adentro, um bairro em que durante uma fase visitei por conta de colegas que lá viviam num dos lotes prestes a desaparecer.
À entrada, aí onde se convencionou chamar de rua do Petroff, em homenagem ao antigo ministro do Interior, já era visível na estrada a ausência de algumas tampas das sarjetas.
Inicialmente, julguei tratar-se de um caso pontual nos primeiros dois buracos encontrados, um deles sinalizado com um pneu velhinho para que os motoristas e os seus carros não tivessem o dissabor de entrar num deles.
Alguns minutos depois ficou visível que quase não existiam mais tampas de sarjetas.Usamos o quase por não termos passado em todas, mas são fortes as probabilidades de que, provavelmente, não existissem mais, porque estes materiais ferrosos se tornaram alvos de jovens e grupos de comerciantes que os vendem às indústrias que fabricam produtos de ferro e até aço.
A febre do ferro — ou do aço — tornou-se hoje uma praga a todos os níveis. Não há estruturas que resistam nem municípios no país que estejam salvo, acreditando alguns que as medidas tomadas para se sancionar os ladrões destes bens públicos são excessivamente brandas
. Antes foram os matérias de cobre, muitos dos quais proporcionando iluminação em bairros, que acabaram por ser vandalizados. Estamos lembrados, por exemplo, dos jovens que invadiram e incendiaram uma pequena subestação de energia no Kilamba. Vimos casos em Mbanza Kongo, onde um grupo de jovens surripiou cabos que serviam para as comunicações dos aparelhos aeronáuticos.
Há dias, ainda no Zaire, um indivíduo morreu carbonizado num poste de alta tensão. Na linha Cuanza-Norte–Luanda persistem, nos últimos tempos, o roubo de barras de alumínio ou ferro que acabam por interromper o fornecimento de energia eléctrica a muitos pontos do país.
O ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da República, general Francisco Pereira Furtado, classifica aos actos de ‘terrorismo’ devido à persistência e as consequências trágicas para os cidadãos, prometendo um combate cerrado.
Preservar os bens públicos deveria ser tarefa de cada um. Infelizmente, assim não é, havendo quem se ocupe deliberadamente em subtrair e destruir o que vai sendo bem feito por supostas dificuldades económico-financeiras. Porém, o que se vai observando é que se estará perante a presença de grupos bem organizados, o que obriga a que se actue e se sejam punidos nos termos na lei.
Entretanto, não basta apenas que se actue em quem furta as cantoneiras. É preciso que se atinja os incentivadores, muitos dos quais cidadãos nacionais e estrangeiros que recepcionam os produtos furtados e que deixam milhares de casas às escuras.