São longas as filas de interessados sempre que há um concurso público. Não importa os sectores em causa, o certo é que há, depois do anúncio, um número alargado de interessados e filas enormes sempre que se tem início um processo destes. Conseguir um lugar na função é um sonho para muitos.
É só ver o frenesi que se instala quando há vagas a nível da educação e saúde. Alguns até abdicam de postos de trabalho e posições mais elevadas em empresas privadas, isto porque até hoje existe quem piamente acredite que só se consegue uma boa reforma estando ligado ao Estado. Alcançada a vaga, é também conhecida a entrega do novo profissional.
Quase que anestesiados ou hipnotizados, muitos engrossam o séquito daqueles que são amplamente criticados, porque estão mais para se servir do que propriamente servirem os utentes nas áreas em que ingressam nas estruturas do Estado. O descaso que se observa com regularida- de no sector da saúde é prova disso.
Sem despri- mor aos profissionais que se entregam de corpo e alma, atendendo freneticamente cente- nas de pacientes todos os dias, há um outro grupo que quase não se interessa e nem parece ter um dia feito o famoso Juramento de Hipócrates.
Há uma distância enorme entre aquele jovem ou mais velho que lutou para obter uma vaga nas es- truturas do Estado e aquele que, num ápice, tenha sucumbido à insensibilidade, à preguiça e aos ví- cios que as suas ordens, dos médicos e dos enfermeiros, por exemplo, se batem com regularidade.
Há pouco tempo, um incidente na porta principal do Hospital Américo Boa-vida terá contribuído para que um paciente perdesse a vida. Tudo porque, segundo consta, os médicos de serviço não terão assistido atempadamente o cidadão.
Agora, no início do mês de Janeiro do ano em curso, uma criança acabou por perder a vida também porque os médicos em serviço não se encontravam no local, o que fez com que esta acabasse também por sucumbir. No primeiro caso, o Ministério da Saúde interveio, afastando alguns profissionais.
No segundo, ontem, um comunicado do pelouro de Sílvia Lutucuta também anunciou a demissão de duas médicas que já eram efectivas, assim como o afastamento de uma que se encontrava em fase de estágio. Independentemente destas medidas, o processo segue para a Procuradoria Geral da República para outras responsabilizações. Dirão alguns que se tratam de medidas duríssimas. Mas não.
Se forem considerados culpados, os profissionais devem sim ser severamente punidos. Não se pode a vida toda queixar-se da falta de empregos e os que lá chegam não têm sequer a noção das suas responsabilidades. E pior: colocando vidas em perigo e permitindo que outros sucumbam por meros caprichos.