Sempre que me desloco a Benguela de carro, uma das imagens que mais me chama a atenção é a extensão de um vasto terreno antes de se chegar a Canjala. É um espaço com uma vedação que terá custado largos milhões de Kwanzas ou dólares capazes de fazer inveja a qualquer mortal que se tem acotovelado por um simples espaço de 20 por 30 para construir uma residência ou iniciar um negócio.
A curiosidade tem-me levado a questionar inúmeras vezes sobre o que haverá no seu interior. É que são milhares de hectares que a olho nu não se consegue divisar o que existirá em termos agrícolas ou agropecuários, tendo em conta as especificidades da própria região.
É possível que exista alguma exploração do espaço. Como muitos no país. Porém, a realidade também nos tem dado a ver outros que, apesar de possuírem titulares, continuam sob aproveitados, numa altura em que a agricultura regressou ao léxico dos angolanos e os apoios são, cada vez mais, evidentes.
Há poucas semanas, em serviço, visitamos a LundaNorte, onde pudemos visitar e radiografar o município do Lôvua, um dos mais novos do país. Um dos grandes projectos em curso está a cargo de seis famílias de me- nonitas mexicanos, que se instalaram na região desde Janeiro do ano em curso. É extensa a quantidade de terra que lhes foi cedida para praticarem a agricultura em larga escala.
Acaba por ser assustadora para alguns angolanos, sobretudo aqueles que se sentem orgulhosos e preferem manter enormes extensões mesmo sem lhes dar qualquer proveito que seja mais benéfico para os cidadãos nacionais.
Em quatro meses, os mexicanos, que se radicaram naquelas zonas da Lunda-Norte, vão fazendo o que durante muitos anos nem sequer os próprios angolanos oriundos daquela parcela do país, mesmo detendo enormes fortunas em dinheiro, conseguiram realizar.
Até ao momento, nesta fase em que escrevemos esta peça, cerca de 900 hectares (o equivalente a 900 campos de futebol) terão sido já preparados e começam a ser cultivados para darem a enormes produções de milho, trigo, feijão e soja.
Até ao início do próximo ano, isto é, 2025, garantem estar a produzir em mais de mil hectares. Diferente daquilo que se conta e pode chegar deturpa- do, tivemos a possibilidade de, felizmente, constatar ‘in loco’ o que está em curso, podendo a breve trecho colocar a Lunda-Norte na lista das regiões que poderão produzir em grande escala os grãos essenciais para a alimentação dos angolanos.
A vinda de cidadãos estrangeiros é sempre vista por muitos como uma ameaça. O que não deveria ser desde que representem mais-valias como os mexicanos das Lundas. Aliás, muitos dos países mais desenvolvidos do mundo contaram com esta força da migração para se afirmarem, sobretudo em sectores como a agricultura, como é o caso do Brasil, que bem conhecemos.
Antes hectares entregues a quem produza de facto, para que não vivamos da importação, mesmo em mãos de estrangeiros, do que os milhares de terrenos que vimos sem qualquer aproveitamento por parte dos nacionais, como se de troféus se tratassem.