Num país em que abundam os pseu- do-empresários, alguns dos quais sem quaisquer obras feitas, poucos serão os angolanos que conhecem Jaime Freitas, um dis- cretíssimo investidor angolano que, apesar das adversidades, nunca parece ter virado as costas a este solo.
Pouco dado até a entrevista, vi-o este fim-de- semana num canal luso a falar sobre turismo, investimentos em Angola, doing business e o momento actual da economia, caracterizada por inúmeras dificuldades, em que muitas empresas vão encerrando.
Apesar de toda a descrença que se pinta, uma tirada do empresário Jaime Freitas, o patrão do grupo Cosal, dos resorts Pululukwa e outros como a banca, demonstrou o comprometimento de quem ama o solo em que nasceu e desde sempre investiu anos depois do funcionalismo ao serviço de uma empresa estatal.
‘Se não forem os angolanos a fazer, muito menos serão os estrangeiros. Portanto, o investimento aqui é necessário, tem que ser feito. Os investidores nacionais têm que servir de exemplo para dar algum conforto a quem vem do exterior’.
Esse foi um dos trechos mais emblemá- ticos da conversa no programa Pérolas do Oceano, um espaço que acompanho com frequência para saber o que tem sido feito nos países africanos de expressão portuguesa em termos de investimentos.
Com uma lista de milionários que chega a quase duas mil pessoas, muitas das quais os rostos nem sequer conhecemos, acreditamos que, se muitos destes endinheirados tivessem o pensamento de Jaime Freitas e outros empresários patriotas, o país estaria a dar passos significativos em muitos sectores, contribuindo, inclusive, para se diminuir o exército de desempregados que a própria conjuntura foi criando.
A realidade nos vai apresentando há largos anos uma certa contrariedade. Embora muitos figurem numa pretensa lista de milionários, até mesmo apresentada por agências credenciadas, a maioria dos milionários angolanos optou por enviar as suas fortunas para o exterior e outros – até mesmo jovens – também vão seguindo o mesmo caminho.
É sabido que deste grupo existirão igualmente as chamadas pessoas politicamente expostas, compostas sobretudo por políticos e outros que, com medo de serem rotulados ou questionados da origem dos seus fundos, optam por enviar a todo o modo e por meios cavilosos dinheiro que vai alimentando as economias europeias, americanas e até asiáticas.
Seria bom se muitos escutassem os vários Jaime Freitas que existem por este país. Indivíduos que, não obstante as dificuldades várias, próprias das diversas épocas, nunca deixaram de acreditar no país.
Não só por conta do mercado existente que lhes permite retirar lucros nos investimentos que fazem, mas também porque sentem que o facto de terem aqui os seus cordões umbilicais ou até mesmo parte significativa das suas infâncias deve fazer muito mais.