Tive a sorte de ter estado no Palácio dos Congressos no dia em que, finalmente, se assinou os acordos de paz, tendo de um lado o general Armando da Cruz Neto e do outro o malogrado Abreu Muengo ‘Kamorteiro’. Presente, como não poderia deixar de ser, o antigo Presidente José Eduardo dos Santos apreciava e testemunhava um dos seus maiores feitos, depois de ter cilindrado no campo de combate o seu principal adversário na época, Jonas Malheiro Savimbi.
Quem esteve no Palácio dos Congressos, naquele dia, lembrar-se-á da performance do general José Maria, assim como daquele momento sublime em que ecoou para todos a música de Rui Mingas, onde se podia ouvir, quase em uníssono, ‘minha terra, nossa terra, meu eu entre a multidão, minha pátria escola, céu e mar sem fim’… Entre os presentes, independentemente da cor política, credo e outras simpatias, foi visível no rosto de muitos lágrimas escorrerem.
No âmago de outros, acreditamos que um dos questionamentos assentava na busca de uma resposta para uma simples questão: afinal, o que fez com que nos guerreássemos durante vários anos? Mais do que a influência das grandes potências, a ambição desmedida de uns e os interesses inconfessos de outros fizeram com que se estendesse o conflito para mais anos, apesar das tentativas em Bicesse, Gbadolite, Lusaka e não só.
Os acordos de 4 de Abril de 2002 abriram caminhos para que Angola prosperasse com um crescimento económico que poderia ter catapultado o país para outros horizontes, apesar das crises que se vieram a verificar nos anos posteriores. Claro está que o país observou enormíssimos ganhos ao longo dos 22 anos de paz. São imensuráveis os frutos, embora existam ainda aqueles que pretendam denegrir tais feitos. Porém, sem quaisquer dúvidas, também é verdade que estaríamos distantes dos níveis de crescimento que o país apresenta, assim como dos resultados positivos que podem ser observados.
Era importante que a paz em Angola se casasse com um plano de amor entre os angolanos, nomeadamente os políticos, governantes, gestores públicos, privados, funcionários públicos e outros entes que participam directamente da vida dos mais de 30 milhões de cidadãos que aqui nasceram e dos que escolheram o país para viver. Quem ama o seu país não rouba ao ponto de preferir ter o dinheiro lá fora enquanto aqui milhares minguam por conta dos seus actos.
Quem ama é capaz de onde quer que esteja colocar em primeiro lugar o solo em que tem enterrado o seu cordão umbilical. Mais do que o capital de que tanto nos queixamos, a falta de amor a Angola é um dos maiores entraves ao seu desenvolvimento, como se pode observar regularmente. Diferente de outros povos, alguns com problemas maiores, a falta de amor ao nosso país é uma realidade que se vai acentuando em muitos cidadãos. E os sinais aumentam a cada dia que passa, infelizmente.