Num discurso bastante aguardado, onde se esperava, à partida, directrizes sobre o que se poderia esperar dos dois dias de trabalho no Congresso Extraordinário do MPLA, em Luanda, o Presidente da organização deixou para o fim a principal novidade que virá a ocorrer depois do encontro.
João Lourenço garantiu que o Bureau Político e o seu secretariado, que já foi um dos órgãos de maior prestígio do país, cujos integrantes nos primeiros anos da independência do país eram vistos como poderosos, vão ser rejuvenescidos, embora não se saiba ainda a dimensão desta viragem.
Na realidade, tal como no Executivo que lidera, são vários os sinais de um rejuvenescimento, dando lugar aos mais novos que assim estarão habilita- dos a assumirem maiores responsabilidades no seio da organização.
Aliás, no último congresso, realizado em 2018, o partido no poder viu integrar nas suas principais estruturas políticos mais novos, sabendo-se, por exemplo, que no seu comité central houve até o ingresso de militantes que, na altura, possuíam me- nos de 20 anos de idade.
Não há qualquer mal em se rejuvenescer as instituições. Trata-se, teoricamente, de um processo normal, incluindo em democracias, onde em muitos países do mundo observa-se hoje a tomada de poder por parte de políticos mais novos, muitos dos quais ainda na faixa dos 30 anos de idade.
Mas, ainda assim, não se pode sequer descurar a capacidade e experiência política de muitos dos que agora deverão ter o merecido discurso, à semelhança dos que agora vão integrar o selecto grupo da fina flor do MPLA.
Diferente do que se observou, recentemente, com a inclusão de muitos jovens no Comité Central, muitos dos quais nem sequer são vistos, nem se pronunciam nos momentos mais críticos em que o partido parece precisar deles, os futuros integrantes do Bureau Político – assim como do seu futuro secretariado – têm de reunir expertise política e inteligência suficiente para os tempos e momentos políticos exigentes que se vivem.
Os desafios políticos que se vivem nos tempos, nu- ma sociedade crítica formada sobretudo por jovens, sugerem que o próprio partido no poder vá ao encontro destes para que se consigam encontrar as soluções para os problemas prementes nos vários domínios. Mais do que meros espectadores, o sangue novo terá de se posicionar enquanto agentes da mudança.
O que só se consegue enfrentando, à semelhança dos demais, os desafios com o sentimento de pertença em relação ao país e os seus desígnios. Infelizmente, nalguns casos, observa-se que é mesmo no sangue novo que também vão surgindo alguns desabonos por não conseguirem resistir aos apetites dos vícios do passado que acabaram por destruir a imagem de muitos ‘dinossauros’ do outro tempo.