Por estes dias parece ser no Brasil em que nos queremos manter. Entre acontecimentos bons e maus, será neste país amigo de Angola, agora novamente às mãos de Lula da Silva, que nos queremos situar mesmo que alguns aspectos desta agenda social que se pretende impor sejam até frívolos.
No habitual zapping às manhãs, antes da saída de casa, é um vício espreitar pelas capas dos principais jornais internacionais. Saber a quantas anda- mos pelo mundo ou então o que o mundo tem escrito ou esperado de nós, Angola.
Até porque um velho vício das assessorias de imprensa a longa distância, em territórios que até só enxergamos pelos mapas impressos, fez com que durante largos anos se despejasse, inicialmente, as informações nestes países e posteriormente canalizados para Angola. Um procedimento ao que parece em desuso, mas nunca se sabe se tivermos em conta o leque de saudosistas e amantes da então metrópole.
No Folha de São Paulo, de ontem, 4 de Janeiro, chamou atenção uma notícia baseada num pronunciamento do antigo vice-presidente de Jair Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, dizendo que ‘o Presidente (entenda-se Lula) chegou com um discurso de revanche’.
Por revanche entende-se também vingança ou desforra. Assim que dei de caras com a notícia do homem que durante algo tempo até esteve por poucas horas à frente dos destinos do Brasil, lembrei- me do que se vem afirmando ainda em alguns círculos no país sobre determinadas medidas que vão sendo tomadas também aqui a nível interno.
Quem acompanhou os últimos dois anos desastrosos de Jair Bolsonaro lembrar-se-á de antemão que este quando saísse do poder dificilmente seria visto com bons olhos por tudo quanto fez. Numa senta- da adquiriu mais de 50 imóveis todos com dinheiro vivo, assim como os filhos, que ele os identificava apenas por números, também acabaram mencionados em crimes de rachadinha de verbas e até se suspeita que existirão algumas ligações entre determinadas acções que aproximam pessoas no círculo mais restrito à morte da vereadora Mariele Franco. A necessidade de revogação de determinados actos eram quase que inevitáveis também em terras do Samba, à semelhança de muitos que vimos, por exemplo, entre nós depois de se ter também passado dos quase 40 anos de consulado do Presidente José Eduardo dos Santos para o actual chefe de Estado, João Lourenço.
Ao que tudo indica é que as supostas perseguições que muitos vêem é algo evitável. É possível se durante os anos de poder ou naqueles em que estamos ligados às pessoas que o detêm se aja de forma correcta, para o benefício de todos e não para benefício próprio.
Apesar de nalguns momentos existirem acções que possam de certa maneira apagar um passado tenebroso e criminoso, há momentos em que não se pode menosprezar comportamentos que possam ter comprometido a melhoria das condições sociais e até económicas dos cidadãos. A revanche aludida por Mourão, o antigo vice-presidente de Bolsonaro, no Brasil, três dias depois de Lula ter tomado posse, não difere muito do que mui- tos dos círculos vão pintando. O cerne da questão é saber se alguns destes supostos perseguidos tenham sido alguns santos durante o período em que estiveram de facto com a faca e o queijo às mãos.