Junho de 2022. Com alguma pompa e circunstância, numa fase em que o país já se encontrava em plena pré-campanha, Francisco Viana viria anunciar à opinião pública que se desvinculava do partido no poder. Usando como mote a não-presença dos camaradas no apelidado Congresso da Nação, por sinal realizado entre os dias 27 e 28 de Maio do mesmo ano, no município de Viana, onde estiveram figuras de proa da oposição, da sociedade civil e determinadas entidades religiosas, o político disparou que a política de cadeira vazia do MPLA tinha sido a gota de água que despertou nele o sentimento do fim do ciclo.
Momentos depois, embora tenha deixado já trans- parecer na carta de desvinculação que enviara ao partido em que militava, que estaria presente onde precisassem dele, onde soubessem ouvir e valorizá-lo, dando voz à sociedade civil, o político e empresário foi apresentado, igualmente, com pompa e circunstâncias, como sendo um reforço de peso para o maior partido da oposição.
Eleito deputado pela lista da UNITA, fazendo vincar já em 2022 o seu estatuto de independente, Francisco Viana demarcou-se naquela fase quando a liderança da bancada do maior partido da oposição retirou-se da conhecida foto de família, feita quando se efectua o discurso de Estado da Nação, pelo Presidente João Lourenço, e abertura do ano parlamentar. Criticado por uns e amado por outros, apesar do posicionamento da sua liderança parlamentar, acabou sendo o único político da UNITA na referida foto e alertara, naquela fase, que estava longe de ser um mero seguidista.
E atirou para os que o criticavam: ‘‘quando se tomou posse jurou-se respeitar as instituições’’. Embora integrante da bancada do maior partido da oposição, naquela fase o deputado já havia dado indicadores de que pretendia caminhar com os próprios pés, longe de qualquer ditame da liderança. Tudo indicava que era apenas uma questão de tempo, porque fazia, regularmente, questão de ser visto como ‘independente’ e não como ‘UNITA’, como reiterou há poucos dias. Na actual legislatura, é o primeiro caso. Na anterior, também o fizera o então deputado David Mendes que após isso se tornou um crítico feroz à liderança actual da UNITA.
Mas a sina das dissidências na bancada da UNITA já vem de alguns anos, sendo que numa determinada época, logo após o fim do conflito, ficou mesmo com uma bancada repartida, convivendo com 16 deputados desavindos a quem foram apelidados de ‘malditos’. Porém, resta saber se além de Francisco Viana ainda existam outros com a mesma pretensão.
Aliás, o facto de a bancada ser composta por personalidades de vários segmentos, incluindo de outras famílias e ideologias políticas, assim como da sociedade civil, abre brechas para que se possa assistir nos próximos tempos a mais deputados que se queiram ver como independentes. Há pouco tempo, numa entrevista, Kamalata Numa alertara que existem na bancada da UNITA muitos deputados que não são deste partido. Provavelmente, já existam outras movimentações que possam originar o surgimento de novos ‘malditos’ para os militantes desta organização política.