Quando ontem, pela manhã, vi e ouvi os pronunciamentos do responsável dos Caminhos-de-Ferro de Luanda (CFL) sobre a paralisação da circulação do comboio no Cuanza-Norte, estava longe de imaginar a gravidade das medidas tomadas nos últimos momentos pra se estancar a progressão da cólera que já dizimou duas dezenas de populares na localidade do Luinha.
Dos casos intermitentes em Luanda, onde estava o epicentro, os casos de cólera alastram- se como fogo num palheiro noutras províncias do país, sobretudo em localidades remotas onde as condições socioeconómicas mostram-se propícias para que se disseminem.
Talvez por isso, momentos depois, o próprio governador do Cuanza-Norte tenha anunciado, em alto e bom tom, a existência de uma cerca sanitária na localidade do Luinha, um povoado na província de gente maioritariamente camponesa. Pelo que se ouviu, tal como na época em que o mundo assistiu à propagação da Covid 19, ‘ninguém entra, ninguém sai do Luinha’. Ou seja, está tudo fechado.
Depois daqueles tempos duros em que o mundo se viu reduzido a pequenos feudos, ruas e cidades vazias, por conta de uma doença que dizimou milhares de cidadãos, não deixa de ser prudente que se encontrem medidas que permitam salvaguardar as pessoas, evitando uma tragédia pior do que aquela que foi ver, há dias, vários cadáveres a serem transportados em sacos plásticos.
Com uma campanha de vacinação em curso e a intervenção de técnicos dos ministérios da Saúde e de outros pelouros, é expectável que num curto espaço de tempo se possa conter o foco, cuja contaminação inicial parece ter vindo da capital do país.
Ontem, terça-feira, 18 de Março, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, acompanhada pelo Governador Provincial, João Diogo Gaspar, e por uma equipa multissectorial, esteve no terreno para avaliar a situação e reforçar as medidas de assistência à população afectada, segundo informações oficiais, tendo a governante lamentado a perda de vidas humanas e destacado o impacto do surto, que teve uma rápida progressão desde a última sexta-feira, 14 de Março.
Consta que muitas das vítimas são oriundas sobretudo de Luanda e de outras diversas províncias, apresentando os primeiros sintomas nas lavras, o que terá dificultado a detecção precoce e o seu encaminhamento atempado para a unidade sanitária. Embora não tenha escutado sobre os timings da referida cerca, espera-se que não leve muito tempo.
Porque, mais do que fechar, a possibilidade de se criarem meios que possam facilitar a vida dos populares das aldeias afectadas é a solução mais viável para que se viva bem sem que se tenha receios de que um dia a doença regres- se com a virilidade com que se apresenta neste momento.