A qualidade dos quadros angolanos em muitos domínios é também um tema que durante largos anos foi alimentando tertúlias, criando discussões e até mesmo provocado inúmeros conflitos. Tempos houve em que as principais empresas que actuam no mercado angolano buscavam no exterior, com Portugal à cabeça, os quadros de que necessitavam. Até mesmo para cargos tidos como insignificantes para muitos, era difícil observar a indicação de um quadro angolano, porque se queixavam os empresários ou promotores de tais investimentos que os nacionais não possuíam qualidades para o efeito.
Foi assim, durante largos anos, na construção civil, na saúde, nas assessorias em vários domínios, educação, sobretudo privada, e fundamentalmente no sector petrolífero, em que num momento se apostou naquilo a que se chamou ‘angolanização’, mas em certos ramos os seus efeitos ainda tardam em chegar. Só uma formação de qualidade permitirá que surjam, igualmente, quadros capazes para os inúmeros desafios que o país ainda apresenta. E esse desiderato só será possível se, a partir das próprias universidades públicas e, sobretudo, privadas se apostar no homem, embora não se descure que aqueles que investiram na criação de tais instituições do ensino superior também procure o retorno do investimento.
Há mui- to que os responsáveis das universidades ou institutos superiores no país conhecem os critérios de acesso dos alunos. Não se acredita sequer que os seus responsáveis, por algum lapso de memória ou desconhecimento, tenham consentido o ingresso de estudantes sem um exame prévio convencidos de que uma situação do género viesse posteriormente a ser permitida pelas instituições que velam pelo ensino superior no país. Nos últimos dias, um alto responsável do Ministério do Ensino Superior garantiu que o Executivo não vai recuar em relação a um grupo de estudantes afectos a três universidades, uma em Benguela e duas em Luanda, que não tenham realizado exames de acesso para que estes passassem a frequentar o ensino superior.
Depois deste anúncio, um grupo de estudantes, apesar do erro inicial, espera uma postura contrária das autoridades, prometendo até a realização de uma manifestação. Angola tem de ser um país normal em todos os domínios um dia, à semelhança do que são os outros que até mesmo no continente africano vão conseguindo a excelência por parte dos quadros que formam e exercem funções de destaque com base nos cursos em que se formaram nos seus países. Com frequência vimos muitos angolanos – e não só- a questionarem-se sobre a inexistência de universidades angolanas no ranking das melhores do continente ou até mesmo por causa dos lugares da cauda que mui- tas delas ocupam. Para muitos é uma situação risível.
Se calhar por causa da mercantilização que se faz em muitas universidades ou institutos superiores, sobretudo privados, que vão surgindo como cogumelos, desrespeitando até mesmo as regras que acabariam por conferir uma maior qualidade. Agora resta saber se o Executivo irá manter a sua posição. Afinal, é preciso, como frisamos anteriormente, que o país e as instituições sigam aquilo que são os procedimentos normais seguidos em todo o mundo. Infelizmente, há quem pense que devamos viver sempre das excepções.