O aumento do número de integrantes do Comité Central do MPLA e o seu consequente rejuvenescimento, no último congresso desta formação política, parecia ser a mola impulsionadora que fizesse galgar para esfera pública o aparecimento de novos rostos que pudessem, à partida, configurar a base de garantia para os desafios futuros.
Hoje, com mais de 600 membros, muitos dos quais jovens, poucos são os rostos interventivos que se conhecem no espaço público, incluindo daqueles que seriam o hipotético sangue novo.
E numa fase, por exemplo, em que o seu principal adversário político, a UNITA, se vai reposicionando já a pensar em 2027, com um novo rosto para a sua organização juvenil, assim como a deslocação para a capital do país do seu mobilizador em Benguela, os sinais do lado contrário denotam ainda uma hipotética apatia da própria JMPLA, dos seus responsáveis e também daqueles que a esta hora – embora se deva respeitar os timings- se podem posicionar como alternativas ao actual estado de coisas.
Depois dos resultados de Agosto de 2022, em Luanda, o posicionamento dos jovens em relação ao processo, os movimentos reivindicativos e as suas causas, como o desemprego, greve no ensino superior, acesso ao crédito e à habitação, são ingredientes suficientes que poderiam fazer emergir um outro tipo de debate a nível da própria organização juvenil do maioritário, não deixando questões tão relevantes como se fossem unicamente da competência das estruturas centrais e dos rostos mais notáveis do partido, sobretudo os da ‘velha geração’ ou da intermédia.
No encontro desta semana do Comité Central, em que o tema foi o impacto das medidas do Executivo no seio dos jovens, ficou claro no discurso do próprio Presidente do MPLA, um recado, claríssimo, que enviou para dentro da sua organização: ‘para além da formação académica que trazem, precisam de se forjar no contacto com os documentos do Partido, na interação com os quadros e dirigentes partidários mais experientes, no contacto com os militantes de base, mas sobretudo no contacto com os cidadãos angolanos de todas as franjas da sociedade’.
E João Lourenço acrescenta, adiante: ‘trabalhemos todos para garantir que eles venham a ser os governantes do futuro, mas precisamos prepará-los, corrigir vícios e ambições desmedidas, de dizer-lhes que o único caminho que os leva ao sucesso é o caminho da dedicação ao trabalho’. Numa fase de bastante pressão política, com movimentos reivindicativos de jovens fazendo das ruas o principal campo de batalha, não há dúvidas quaisquer de que se do outro lado dos camaradas existissem igualmente outros jovens que pudessem fazer do debate livre, franco e aberto um meio para o efeito, talvez se conseguisse um ponto de equilíbrio que poderia fazer com que muitos dos argumentos dos reivindicadores chegassem às estruturas de direito incluindo com possíveis soluções.
Durante largos anos, passou-se a muitos angolanos, principalmente jovens, a imagem de que muitos governantes e políticos, incluindo da oposição, fizessem de Angola apenas uma parte do percurso que terminaria no exterior, on- de muitos levaram as fortunas obtidas lícita ou ilicitamente no país. Contudo, sabemos que nem todos assim o fizeram. E muito do que vai sendo feito hoje no país, assim como as expectativas em relação ao seu futuro, seriam melhor defendidas se os jovens fossem os principais guardiões e mais comprometidos com o país.
E mais do que absorver as críticas, muitas delas com razões, mas outras até desnecessárias, tornou-se imperioso, nesta luta de sobrevivência e de manutenção no poder do MPLA, que os seus ‘le enfant terrible’ e ‘jovens turcos’ saiam da toca e se mostrem vivos, para o combate político que se exige, à semelhança do que muitos fazem nas fases em que estão em causa os ‘jobs for the boys’ ou as promoções a nível dos lugares partidários e do próprio Executivo.