AEscola Óscar Ribas, em Luanda, foi durante os anos 80 e parte de 90 um dos principais estabelecimentos de ensino do município do Cazenga.
Era lá que, depois de efectuado o primeiro nível na nossa época, eram encaminhados muitos dos jovens que que habitavam neste que já foi considerado como um dos mais populosos municípios do país.
Estudar nesta escola era para muitos um luxo.
Para muitos pais, naquela época ainda com o fervor revolucionário no peito, era um grande ganho, independentemente das condições que os seus educandos fossem encontrar.
Quando lá chegamos, ainda imberbe, sedento apenas de conhecimento, para fazer a quinta classe de termos sido colocados numa das salas que estava situada fora do edifício principal.
Quem por lá passou, lembrar-se-á seguramente de que elas eram apelidadas de capoeiras, com paredes um pouco acima do peito, chapas de zinco, algumas sem portas e as carteiras eram somente sonhos.
Foram estas as condições daquela fase que fizeram com que aquela parte do nosso Óscar Ribas, de que nos orgulhamos ter frequentado, ganhasse o nome de ‘Capoeiras’.
Só não sei se nós, os alunos, éramos as galinhas, galos ou um outro tipo de aves entre as existentes no país. Mas era a falta de carteira que mais chamava atenção.
Não nos importávamos de nos sentar em pedras ou restos de carteiras das poucas existentes, sendo felizes aqueles que viviam nas redondezas da escola, porque podiam trazer algo para assistirem as aulas de forma mais condigna.
Tempos depois, uma reabilitação deu uma nova imagem ao então Óscar Ribas, digna da homenagem ao escritor angolano.
O edifício tornouse novo, com novas carteiras, quadros, banheiros, passeios. E lá se foram as capoeiras, a falta de carteiras e o recurso às pedras ou latas de leite.
Infelizmente, não é esta ainda a mesma realidade em muitas escolas do país. Há ainda aquelas em que os miúdos como nós, há mais de 30 anos, são submetidos a condições dantescas que criam frustração a muitos pais, irmãos, encarregados de educação e pessoas de boa fé.
E o caso de Cuanza-Norte, em que um rapaz apunhalou mortalmente o outro numa briga por uma carteira, é uma situação que esperávamos estar ultrapassada.
Enquanto num passado distante estas escolas, sem carteiras, puderam dar ao país jornalistas, professores, magistrados, economistas, engenheiros e outros profissionais, as de hoje vão coarctando o futuro e oferecendo até pequenos criminosos que seriam evitados nesta era moderna.