Confesso que antes da passada quadra festiva não conhecia nem o autor muito menos o rap “chuva de comida”, que se tornou viral nas redes sociais e noutras plataformas electrónicas.
Aproveitando-se de um momento em que os angolanos precisam, sim, que os preços da cesta básica recuem significativamente — ao mesmo tempo que se aumenta a produção nos vários campos instalados pelo país —, um jovem decidiu dar o corpo, provocando as autoridades e outros decisores, enquanto aguardamos que os efeitos da redução do IVA nos principais produtos aconteçam de facto. “Chuva de comida” acabou por se tornar num hit. Aliás, é sempre assim em Angola, sobretudo em determinados períodos.
Estamos lembrados de bad b e “É Liamba”, do Dj Loló. porém, poucos deles terão sido tão sortudos como o Rap Gang. Apesar de não termos visto uma chuva de comida, depois daquele longínquo ocorrido com Maná na era antes de Cristo, podemos hoje assistir a uma chuva de intenções de premiações para os palancas Negras, que disputam na Cote D’Ivoire.
Desde as tradicionais Unitel, passando pelos bancos, empresa de vendas de diamantes e perfumaria, cada um a seu jeito vai procurando dar a cara querendo mostrar ser mais filantrópico que os outros, claro que sem deixarem de lado as vantagens que obtêm em termos de marketing.
Claro que não se trata de uma má acção. pelo contrário, é sempre bom ver instituições nacionais a mergulharem no apoio ao desporto, uma importante via de desenvolvimento de qualquer país. porém, a forma como se vai fazendo está acabando por retirar do campo as discussões pertinentes sobre as chances que o país possui dentro das quatro linhas frente à turma nigeriana. Do táctico, campo, jogadas, perspectivas e outras nuances acabamos por estar virados às discussões sobre quem dá mais ou quais são os que poderão vir destronar, por exemplo, os oito milhões atribuídos pelo banco Keve.
A inversão de marcha, reconhecida explicitamente no comunicado feito pela Federação Angolana de Futebol, que procura agora através da sua área de comunicação e marketing ser a única interlocutora dos que prendem oferecer prémios, poderá comprometer, sim, a concentração dos atletas. É expectável que nesta fase os atletas se concentrassem unicamente na missão de poder levar os palancas às meias-finais.
Claro que os zeros a mais que terão nas contas farão a diferença, assim como os novos iphones, saldos quase vitalícios, os dólares da Sodiam ou o cheirinho que uma perfumaria colocou à disposição. Mas isso só poderá ocorrer sem o alarido que se observa nem tentando desligar a boa disposição que Gilberto e a sua coluna estavam a proporcionar até ao momento.