Por estes dias a política portuguesa tem estado agitada. Aliás, desde a chegada do Chega, partido liderado pelo ultrarradical e adepto da extrema-direita, André Ventura, quase que não há sossego para quem quer que seja.
Há uma semana, naquilo que parecia ser uma visita normal de Lula da Silva a Portugal, depois do quase congelamento das relações diplomáticas entre lusos e brasileiros, esperava-se que esta passagem do novo Presidente do Brasil pudesse amenizar, independentemente do que se tenha dito em relação à guerra na Ucrânia.
Era o expectável. Porém, para André Ventura e o seu grupo nada parecia ser impossível, não obstante os receios que foram sendo evocados, culminando com uma pequena manifestação em que atacou Lula da Silva e aqueles que o acompanhavam nesta visita que se esperava quase sem ruídos a Lisboa.
Portugal é um palco por excelência da diáspora angolana. É também – e sempre foi- refúgio de muito do capital obtido ilicitamente, o que fez com que num período difícil na Europa este membro da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa pudesse ludibriar a crise económica.
Recentemente, embora algumas pessoas tenham tentado desmentir, foi atribuído ao líder do Chega uma frase em que dizia estar ‘farto desta escumalha africana’. Tratava-se, ao que se diz, de um desabafo em relação ao crescimento exponencial de imigrantes africanos em Portugal, um grupo em que, certamente, estarão os próprios angolanos.
Não tenho receios quaisquer em relação aos cidadãos angolanos que se deslocam a Portugal ou usam este território europeu para atingir outros palcos, muitos dos quais acabam por ficar temporariamente radicados em solo luso, antes do salto que esperava qualitativo para outros destinos.
A mim preocupa aquela elite angolana, sobretudo, que quase não vive sem que Portugal conste do mapa. Aqueles que, independentemente das funções que exercem no aparelho do Estado, quase que ficam com náuseas se não se dirigirem a aquele país europeu, onde mui- tos deles deslocaram as suas famílias em busca de uma melhor educação, saúde e até mesmo condições de vida que se esperava que lutassem conjuntamente com os milhares de cidadãos aqui dentro.
Endiabrado como está, quase como uma arma descontrolada disparando em todos os cantos, espera-se que um dia não vá o presidente do Chega e seus companheiros, muitos dos quais também não morrem de amores pelos imigrantes e os africanos, atingir os nossos concidadãos, sobretudo políticos, que fazem do palco luso a sua casa por excelência, como se não tivessem ao nível interno responsabilidades acrescidas e condições para muito do que buscam lá.
É importante não descurar que com as polémicas no PS, o estado banho-maria do PSD, que nem convence o próprio Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa, um dos principais beneficiários pode ser os radicais do Chega. E, à semelhança do que já se viu naqueles países em que partidos da mesma estirpe chegaram ao poder, as relações com muitos estados sofreram um pequeno revés.