Janeiro é aquele mês em que estamos, literalmente, ligados aos acontecimentos de 4 de Janeiro, que hoje se assinalam. Um momento histórico, por se tratar do prenúncio de tudo quanto houve em matéria de luta para a independência nacional.
Só depois do 4 de Janeiro vimos o 4 de Fevereiro, data do início da luta armada, e, posteriormente, o 15 de Março, no Norte de Angola, o dia em que muitos acreditam ser aquele, verdadeiramente, que deu início ao processo que veio a culminar com a independência do país.
Gosto do simbolismo desta fase. O país, apesar de já não se tratar de um feriado nacional, ainda por razões que considero injustificadas, vai assinalar o momento com pompa e alguma circunstância. Uma delegação ministerial, encabeçada pelo secretário de Estado dos Antigos Combatentes, de- verá estar hoje na zona de Teka Dya Kinda, no município do Quela, para dirigir as actividades alusivas à data que dita o início da luta armada. O município do Quela, em Malanje, o berço da nossa luta para a independência, deve ter uma das imagens mais lindas que esta província conserva: a Baixa de Kassanje. Do alto dá para observar a imensidão do espaço em que centenas de angolanos se viram regados com fragmentos de na- palm porque pretendiam, unicamente, reivindicar contra os maus tratos a que eram submetidos pelos colonos portugueses.
Foi da reivindicação que surgiu o ataque que desencadeou no seio de muitos angolanos, entre nacionalistas e não só, alguns oriundos desta região, o sentimento de que se tinha de pleitear para se ter um país independente como hoje, apesar dos problemas que nos assolam.
Mais de quatro décadas depois, o município do Quela ainda luta por algum reconhecimento, não obstante o simbolismo que lhe pode ser atribuí- do até estes dias.
Quem já lá esteve saberá o que se diz. Quem um dia passou pela velha vila, em que muitas das infra-estruturas ainda sentiam saudades dos períodos áureos em que o algodão era a principal cultura, saberá o que se escreve.
Até hoje ainda se luta pela concretização de um dos sonhos que se espera concretizado, mesmo depois da passagem por esta região do país de inúmeras personalidades da nossa vida política e social. Há muito que se aguarda pela edificação de um monumento e uma vila onde se pudesse, na verdade, reconhecer os esforços de todos aqueles que morreram na repressão que evidenciou a crueldade dos colonos portugueses.
Trata-se de uma promessa cujo lançamento da primeira pedra acabou por ser feita pelo então Presidente da República e fundador da Nação, Agostinho Neto, há muitos anos, cuja concretização ainda não se efectivou. Hoje seria daqueles dias para ver concretizada esta velha promessa. Mas um ano mais se vai passar. Talvez em 2024 consigamos olhar para o Quela e as suas gentes de uma outra forma. E a concretização desta promessa seria um bom ponto de partida para que o dia 4 de Janeiro fosse mais do que uma data como outras que vimos assistindo.