Disse-me um dia um amigo que o desenvolvimento de Angola passará, necessária e indiscutivelmente, pelas estradas. Só por isso imaginei, há muito, que tenha inicialmente valido apenas o investimento feito depois do alcance da paz para a reconstrução da malha rodoviária. Com recurso à China, país que, apesar das vicissitudes políticas, estendeu a mão a Angola para o processo de reconstrução nacional, com vários biliões de dólares norte-americanos, vimos nas- cer novos troços e assistimos ao renascimento de outros.
Numa determinada fase, era possível circular em muitos pontos do país com base nos in- vestimentos então feitos. É sabido que em muitos troços foi sol de pouca dura. Foi assim na reconstrução das estradas como também dos caminhos-de-ferros, onde hoje existem projectos suplementares que trazem à tona novos investimentos e investidores, como os europeus e americanos, no corredor do Lobito, por exemplo. Passados mais de 20 anos desde que se alcançou a paz, era expectável que, nesta fase, houvesse questões quase que ultrapassadas.
Entre estas, elencaria a reconstrução de estradas, sejam elas primárias, as nacionais, secundárias ou terciárias, o que não acontece. Inicialmente – e com razão – atribui-se às construtoras chinesas responsabilidades pela falta de qualidade das estradas nacionais, muitas das quais vão mostrando hoje deficiências de engenharia, assim como a sua feitura com meios que, em momento algum, dariam uma certa durabilidade, respeitando-se as exigências para obras do género.
Nos últimos tempos, tal como no passado, vai-se observando a deterioração de obras que se pensavam que pudessem perdurar no tempo e, quiçá, no espaço. A verdade é que ainda continuamos a conviver com obras que jocosamente a população acredita ser de esferovite, por não mostrarem indícios de qualquer qualidade.
As estradas, algumas delas feitas há pouco tempo, vão entrando em catadupa neste leque. E não seria diferente. Há poucos anos, fizemos por estradas alguns troços nas estradas nacionais, usando vias que são transitáveis 24 sobre 24, mas que também estão a desaparecer e comprometendo a circulação de pessoas e bens.
Olhando a forma como alguns destes troços se vão deteriorando, não tenho dúvidas de que estaremos perante uma crise ainda mais profunda no processo de reconstrução de estradas. Não é normal que se observe todos os anos, antes mesmo, se calhar, de estarem vencidas as garantias, se existem, as estradas em que são empregues largos milhões de dólares.
Não faz sentido . Talvez seja necessária – e urgente – que se realize um debate profissional sobre as estradas.
O país clama por isso. Que tal um debate nacional sobre a qualidade das vias que temos e as soluções para a sua melhoria? Nem tudo passa pela política, quando os gastos e prejuízos se agudizam.