Ainda me recordo da última batida em que o paludismo me deixou completamente de rastos. Foi há vários anos. Na altura, por incrível que pareça, pensava que pudesse visitar já o Criador ou que este quisesse a sua criação ao lado. Completamente debilitado, as primeiras vozes na família sugeriam que fosse levado a uma conhecida clínica em Luanda, uma ideia que acabou não vincando por conta da intervenção de uma familiar ligada ao sector da saúde.
Esta, para admiração dos meus, pediu que fosse levado a um posto de saúde nas imediações do bairro Grafanil, onde na altura residia. O centro de saúde é um daqueles a que também associaram o nome da antiga primeira-dama. Creio que não seja a denominação oficial, mas quem passe por lá e questione o nome, qualquer um dos moradores ou utentes o conhece pelo nome da filantropa e mentora do Fundo Lwini.
Tal como sugerido, foi então às mãos das enfermeiras — e talvez uma médica — que fui recebido, acomodado numa cama e tratado. Quase quatro horas depois, o que não consigo esquecer, estava praticamente a ressurgir dos confins, mais forte e completamente diferente do doente que entrara às pressas. Lembro-me de, meio a brincar, meio sério, me terem dito que quando o caso for paludismo, então a melhor solução são os hospitais públicos.
E guardo comigo essa referência e a convicção de que, apesar dos inúmeros problemas que enfrentam, em muitos hospitais públicos há, sim, gente que trabalha no sentido de salvar vidas todos os dias, embora outros parecem estar mais interessados em destruir todo um legado há muito construído por profissionais destacados. Ontem, infelizmente, mais uma equipa médica de um hospital público foi suspensa por suspeita de negligência na morte de um paciente de 40 anos de idade.
Trata-se de um facto ocorrido no dia 7 de Janeiro no Hospital do Prenda, em Luanda. Em Setembro do ano passado, uma equipa de médicos do Hospital Américo Boavida também havia sido suspensa na sequência de um comportamento quase semelhante em que acabou por perder a vida um jovem de 25 anos de idade. Mal se conhece os resultados finais deste último caso, o incidente do Hospital do Prenda não só reaviva as memórias, como funciona igualmente de chamariz para o que se estará a passar, por exemplo, noutras unidades hospitalares em que todos os dias entram centenas de pacientes e alguns deles também acabam por sair sem vida.
À semelhança do que se vê noutros pontos do mundo, incluindo aqui em África, o serviço público pode ser um exemplo até para muitas acções que ocorrem na sociedade. Basta apenas que exista vontade dos homens para que isso aconteça, porque, afinal, os mesmos profissionais que actuam no sector privado, sorrindo e bem comportados, são os que, às vezes, aparecem trombudos e mal dispostos nos hospitais públicos.