foi há pouco tempo que um assunto familiar levou-me ao Prenda. Um dos mais emblemáticos bairros da capital, o que chamou-me atenção foi o facto de quase não existirem mais tampas de sarjetas em quase toda a sua extensão. Andando pela zona, a curiosidade fez-me questionar uma das pessoas com quem andava sobre o que se tinha passado. Disse-me o companheiro que tinham sido os amigos do alheio que substrairam, uma de cada vez, deixando os buracos abertos é constituindo perigo para os automobilistas e transeuntes.
No lugar das tampas das sarjetas, para que as pessoas não caiam nos buracos, alguns populares optaram por colocar pneus usados e ainda outros objectos para sinalização. A busca por ferro – ou qualquer outro material que possa ser pesado e comercializado- como já não se olha a meio. Para muitos, busca por mais alguns Kwanzas tem criado sérios problemas à circulação, ao fornecimento de energia elétrica e até de água.
Não faz muito tempo que uma reportagem mostrava um jovem roubou os cabos de cobre que facilitavam o fornecimento de energia a um dos aeroportos do país e outros que vão retirando até mesmo os parafusos dos postos de alta tensão. Não nos espantemos se nos próximos tempos alguém se lembrar de criticar de forma feroz o Executivo caso aconteça alguma tragédia por conta da inexistência de sarjetas ou de outros meios que os próprios populares têm roubado, muitos dos quais devem ser até aqueles que se posicionam nas fileiras dos mais acirrados defensores das reivindicações.
E o que pode parecer banal acaba por ter custos elevados para o próprio Estado, isso sem se ter em conta que pode perigar a vida de outros. No caso das sarjetas, por exemplo, o Governo Provincial de Luanda estima um prejuízo de mais de mil milhões de kwanzas. Claro que amanhã existirão outras opiniões em relação ao que se está a passar. Ainda assim, não há dúvidas de que se deve dar ao Estado o benefício da dúvida em relação àquilo que parece ser um problema mais dos cidadãos do que do próprio Estado.
Quem puder fazer contas do que representam mil milhões de kwanzas por estes dias saberá a importância que isso faz para qualquer angolano. Mas não. Alguns poderão tentar, mas a verdade é que consubstancia-se naquilo que parece ser o valor total que os angolanos e outros cidadãos que aqui estão roubaram tirando aquilo que parecia desnecessário. Roubar sarjetas de mais de mil milhões de kwanzas deve ser obra. Pena é que ainda assim existirão aqueles que sairão em defesa até do inimaginável.