Éramos mais novos quando ao lado de primos e outros parentes nos deslocávamos com frequência à zona do Mabululu, em Luanda, onde os nossos avôs e outros familiares possuíam as suas lavras.
provenientes do Cazenga, embora mais novos, lembro-me de percorrermos a pé a estrada entre a Decorang e a Sonefe, sobretudo aos fins-de-semana.
Era lá que aproveitávamos apanhar gafanhotos, ratos até então tidos como da mata (para diferenciá-los com os da cidade) e os produtos agrícolas, como mandioca, batata-doce e outros.
Com o passar do tempo, aos poucos, os campos de produção naquela zona foram cedendo lugar aos novos bairros, entre os quais o paraíso, Zona da Fábrica da pólvora, passando pelo imbondeiro, Mabululu e até mesmo o Malueca, que nos últimos dias ressurgiu na comunicação social por causa da inauguração de uma ponte naquela zona.
Alguns anos depois, já sem os saudosos campos agrícolas, nem tão pouco os familiares que a acabaram por aportar naquelas zonas, acabei por visitar a área, percorrendo uma picada alternativa que dá acesso – em tempos não chuvosos – ao lado depois da ponte até então inacabada.
Distante das condições de habitabilidade existentes nas zonas mais urbanizadas e das novas centralidades erguidas em determinados bairros de Luanda, Malueca e arredores cresceram por influência da pressão demográfica que o país teve nos tempos de guerra fratricida.
Com muitas habitações precárias e outras de construção definitiva, milhares de cidadãos hoje habitam o local, estendendo-se em toda a sua extensão até ao famoso bairro do paraíso, aí pertinho. Inicialmente, sem verbas para o efeito, o Estado não conseguia acompanhar o crescimento com a introdução de serviços sociais e outras infra-estruturas que se impunham.
Posteriormente, já com muitas habitações, sem ruas devidamente estruturadas, por um lado, também não havia como se chegar a determinados locais sem que isso implicasse também o afastamento compulsivo de alguns moradores.
A circulação de pessoas e bens, entre estes bairros e os municípios de Cacuaco, Cazenga e Viana dependiam necessariamente da reabilitação da conhecida ponte do Malueka.
A mesma que havia sido prometida pelo governador de Luanda, Manuel Homem, e a população esperava ansiosamente pelo cumprimento de tal promessa.
A presença massiva de muitos destes populares durante o acto de abertura da referida obra, assim como as mensagens de entusiasmo apresentadas por muitos deles, revelam, claramente, um sinal de satisfação, porque, de forma indirecta ou directa, a nova travessia vai proporcionar uma melhoria na circulação e nas vidas dos próprios moradores.
As imagens divulgadas do Malueka indicam que, para muitos angolanos, são poucos os sinais de que precisam para olharem de outra forma as acções que vão sendo desenvolvidas pelas autoridades.
E, por estes dias, ficou visível que com um pouco de esforço é possível ver caminhar, nos próximos tempos, de mãos dadas, as autoridades governamentais e os próprios populares.