Circulou há poucos meses um vídeo em que um cidadão português dizia de boca cheia que Angola ainda lhes pertencia. Pela dureza do debate, em que surgem muitos indivíduos, pode-se depreender de que se estivesse perante um debate acirrado sobre as consequências da colonização, ou até mesmo a forma como este processo encerrou, levando à independência das antigas colónias, entre as quais Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Quase furibundo, dizia o cidadão luso que alguns destes países, com Angola à cabeça, poderiam, sim, ser reclamados como pertença do Estado português na mesma condição que até aos dias de hoje os Estados Unidos se apossaram de Alaska e outras antigas potên- cias coloniais europeias também o fazem.
Para já, os Estados Unidos nunca foram uma potência colonial, tendo se beneficiado de imigrantes de vários estados com predomi- nância para os ingleses que lá foram habitar e desterrar parte dos índios nativos. Apesar disso, independentemente dos níveis de cooperação e os anos de independência de muitos países, existem muitos cidadãos lusos que não perderam essa crença errada de que as antigas colónias ainda sejam suas pertenças, ou que tenham que ser eles necessariamente a exercer influência durante a existência dos mesmos.
Engana-se quem pense que se trate somente dos sectores mais redutores. Entre os pequenos camponeses, antigos colonos, comerciantes ou até mesmo militares, porque surgem sempre indícios de que essa convicção possa ser maior do que os olhos nos dão a ver. Neste 25 de Abril, quando se assinala a revolução dos cravos, em Portugal, ficou patente algum deste desconforto numa certa elite portuguesa e arredores o facto de o Presidente deste país, Marcelo Rebelo de Sousa, ter falado numa hipótese de reparação dos erros cometidos nas antigas colónias.
Para muitos, Marcelo estaria a delirar, de tal modo que até o jornal Expresso cita uma fonte do Governo dizendo que o ‘assunto é tóxico’. Porém, há uma tendência a nível europeu e não só de as antigas colónias se desculparem e algumas delas até mesmo indemnizando as vítimas dos vários atropelos. França, Alemanha e Itália são alguns que se terão manifestado já em relação ao que fizeram nas antigas colónias que possuíam, mas Portugal parece não compreender este facto.
Talvez, por isso, se perceba porque esteja muito distante da posição e o crescimento que muitos dos seus vizinhos tiveram ao longo dos tempos. Porque comparar os prejuízos económicos e outros que os colonos portugueses tiveram com a pilhagem, assassinatos e outros males nos territórios africanos só pode ser coisa de indivíduos sem o mínimo de bom senso. Os africanos foram, sim, os maiores prejudicados, embora hoje vivam também dos efeitos maléficos de alguma das suas lideranças.