Tem sido nos últimos dias um dos assuntos de discussão: a emigração. Diz-se a boca pequena que os últimos dias têm sido prenhes em deserções, ou seja, na saída de muitos cidadãos angolanos para o exterior, onde esperam encontrar melhores condições de vida.
Nenhum estado pode limitar os seus cidadãos caso pretendem encontrar lá fora aquilo que não têm a nível interno. E mesmo que haja, ainda assim, cada um saberá o que procura e aquilo que existira no outro lado.
Uma das imagens que guardo foi quando um dia destes cheguei a Lisboa e uma amiga pediu-me que não almoçasse antes de visitar o beco do xixi, na zona do conhecido Martim Moniz, próximo ao famoso Rossio, zona em que os angolanos conhecem quase como as palmas das mãos.
Subimos algumas escadas e deparamo-nos, nuns casebres ai existentes, com aquilo que era o mais inóspito até ao momento naquilo que eram os nossos vai e vem até a altura em terras lusas.
Nunca tivemos nada contra. Pelo contrário, já houve casos em que uma boa diáspora foi melhor do que aquilo que nos é dado a ver a nível interno, apesar dos contratempos que viver lá fora, longe da realidade, possa representar a quem esteja do outro lado do mundo.
Os números que nos são dados a ver representarão, sem pestanejar, um soco no estômago ao Estado angolano, a quem nesta fase do jogo deve repensar que passos poderão ser dados no sentido de se reverter as decisões que vão sendo tomadas nos últimos tempos.
Claro que para muitos, por mais que se diga o contrário, Lisboa, Rio de Janeiro, Dubai, Cape Town e arredores representarão muito mais do que aquilo que Angola pode oferecer. É o que se escuta. É o que e diz. Ainda assim, cada um é livre de tomar a decisão que acha melhor, embora para muitos não seja fácil deixar para trás um país em que sempre acreditou e almejou fazer alguma diferença.
Angola está muito longe de ser o paraíso. Talvez um dia nem venha a ser se não assumirmos que seja um compromisso de todos. Mas, ainda assim, é preciso que os passos que sejam dados estejam assentes em pressupostos que não nos levem a um dia estar numa posição pior do que aquela inicial.
Quem acompanha nos últimos dias muitas das informações que nos chegam da diáspora, elas indicam que não há do outro lado um mar de rosas. E é bom que se saiba disso, antes de se pensar que o paraíso anda do outro lado e que aqui existira somente o inferno.