Longe parece estarem os tempos em que uma conhecida empresa angolana tinha como slogan “Coma pão à vontade, a farinha é nossa”. Na época, muito do que se consumia em termos de panificação tinha como fonte uma unidade fabril no Kikolo, município do Cazenga, onde ainda podem ser vistos os silos e aquela infra-estrutura imponente que ao que tudo indica também já mudou de mãos.
Claro está que nem sempre se viveu um tempo de bonança, como se assiste hoje, em que milhares de angolanos manifestam descontentamento por conta da redução do tamanho do pão, o seu preço acrescido e uma suposta inexistência de farinha de trigo no mercado. Regressar aos tempos do famoso pão burro, com o qual sobrevivemos largos anos no período mais difícil do conflito armado, é coisa que já nem passa pela cabeça de muitos.
Embora em muitos ainda permaneça na boca o saudosismo do sabor dos pães da Pameli, Leão, Sopão, Kaxicane e outras panificadoras. Por estes dias, em Luanda, sobretudo, e noutras províncias, os clientes queixam-se da falta de peso que o pão vai apresentando dia após dia. Diz-se que o produto esteja a minguar por conta da escassez de trigo no mercado, enquanto se aguarda ansiosamente que os projectos do Executivo, como o Planagrão e outros, possam contrapor as necessidades existentes no país.
Felizmente, ao contrário do que se pode pensar, a escassez que se assiste no mercado está muito longe de ser um assunto que se deva imputar ao Executivo angolano. Quem escutou ontem o responsável da Associação de Panificadoras de Angola ficou com a sensação de que, afinal, existem mesmo muitos comerciantes de má-fé que não olham a meios para atingir o lucro. Enquanto a nível interno muitos deles barafustam e apontam o dedo ao Executivo por causa da suposta falta de divisas para importar, por exemplo, o trigo ou até financiamentos para reforçarem as suas empresas, muitos deles optam depois por transferir este mesmo produto para a República Democrática do Congo.
Ou seja, reexportam o que se pensava vir a servir os angolanos, onde recebem o dinheiro para o efeito. Pessoalmente, não gosto muito do termo ‘mãos invisíveis’ devido ao dumping que se vai observando no sector, havendo, se calhar, quem esconda o produto para o revender momentos depois.
Mas o termo ‘mãos invisíveis’ foi usado pelo responsável da Associação de Panificadoras do país, esperando este que o Estado angolano adopte uma medida que vise proibir a exportação de trigo nesta fase em que o país ainda precisa do referido produto. Quem sabe se assim não se volta a ter o pão com o peso e o tamanho que muitos cidadãos dizem estar a desaparecer por estes dias e, se calhar, nem consegue matar a fome.