Não me lembro taxativamente onde terei lido inicialmente. O certo é que dias depois vi — e ouvi — em conversas que vou mantendo com amigos. Alguns deles com cargos de responsabilidade e outros cidadãos anónimos que preferem não ser sequer identificados. Parecia bobagem.
Aquelas conversas jogadas fora num grupo de amigos, algumas vezes regada com um líquido qualquer para alimentar as tertúlias, mas com uma grande verdade inculcada, sobretudo para os jovens que se vão mostrando contrário a muito que se diz ou se faz. O que faz, afinal, com que inúmeros jovens, muitos dos quais com cargos de responsabilidade, em que se acredita até puderem tomar as rédeas do país, optarem com regularidade pela compra de residências e colocarem as suas famílias em países europeus? É curioso que, não importa em muitos deles de que opção política sejam, o normal é quase todos fazerem da Europa, mormente a antiga potência colonial, como sendo a primeira opção quando conseguem alguma maquia ou se sintam bem-sucedidos em determinados negócios.
Se antes se pensava unicamente num grupo de indivíduos supostamente privilegiados, abastados devido às negociatas que existiam e outros corredores, os tempos actuais vão mostrando que permanecem alguns vícios. É provável que muitos não se consigam livrar deles, entendendo-se agora as razões que fazem com que muitos tenham apanhado enormes calafrios com a medida tomada para se tachar quem pretenda enviar dinheiros para o exterior.
É claro que cada um é livre de optar por onde irá viver um dia destes. Angola não é, segura- mente, o único país em que os seus cidadãos prefiram adquirir mansões e outras moradias no exterior para que um dia consigam uma vida condigna, fugindo das dificuldades com que os seus companheiros ainda lidam no dia-a-dia. Porém, não podemos sequer acreditar que se normalize esse tipo de acções em que muitos dos seus incentivadores sejam até servidores públicos, deputados, governantes ou ainda quadros de grandes empresas que não olham a meios para em qualquer altura mandar para fora as receitas que adquirem a nível interno.
Há comportamentos que se podem admitir a nível de quem esteja mergulhado em negócios ou noutras actividades. Mas não se pode sequer acreditar que até políticos, muitos dos quais se especializam em vender sonhos, tenham essa vã ilusão de que os seus últimos dias ou acções passem exclusivamente pela Europa e arredores, como se não os pudessem fazer a nível interno. Amar Angola significa também ter o país como primeira opção em muitos domínios. Passa por acreditar que o futuro esteja aqui, à semelhança do que muitos passam aos demais habitantes deste país, que diariamente vivem pensando e fazendo acontecer este vasto território.