Quem ainda se lembra do acidente no Terminal do Porto de Luanda? Aquele em que um motorista num Audi quase que desgovernado invadiu a infraestrutura em alta velocidade e provocou um incêndio sem prece- dentes, danificando significativamente o espaço? Contrariamente ao que tem acontecido, apesar de todo o alarido que o acidente provocou, levou algum tempo para que as autoridades se pronuncias- sem, detalhadamente, sobre o que tinha ocorrido e quem tinha sido o motorista que ía ao volante do carro que embateu contra a infraestrutura pública. Houve até reacções por parte de determinadas figuras públicas que não compreendiam como era possível, nos momentos iniciais, não se ter dito, sem tergiversar, quem eram os envolvidos no acidente.
Este facto faz com que se alimentem especulações, muitas das quais acabam por chamuscar as próprias autoridades por causa de um suposto défice comunicacional. Por estes dias, a notícia tem sido a descoberta de um milhão e mais de 500 mil dólares no aeroporto Internacional 4 de Fevereiro. Não se trata da primeira vez que se descobrem elevadas somas, mas os prevaricadores quase sempre são encobertos em névoas. A falta ou uma comunicação deficiente, à partida, é meio caminho andado para que se avolumem as especulações em torno de vários assuntos.
E no caso do dinheiro, como já se previa, surgiram várias teses sobre os supostos proprietários dos montantes, apontando-se até nomes de empresários e outras figuras públicas angolanas que, ao que tudo indica, parece que não têm nada a ver com o assunto. Em muitos casos, o sentimento de que parece existir dois pesos e duas medidas na abordagem e até na apresentação de cidadãos acusados de vários crimes levam-nos a isso. É só ver que o simples ladrão de botijas, Tv e o pilha galinhas são exibidos até em cadeia nacional, com grandes manchetes, mas não se assiste às mesmas cenas quando se trata de indivíduos ligados a crimes de colarinho branco ou até em desvios que lesam muito mais o próprio Estado angolano.
Quer se queira ou não, a velocidade como se propaga hoje as informações, sejam elas verdadeiras ou não, acaba posteriormente por se constituir num sério entrave aos intentos daqueles que procrastinam estes dados, o que faz com que a exibição ou divulgação posteriormente acabe por ser uma espécie de tentativa de apagar um fogo mal concebido por alguém. Ontem, felizmente, foram exibidos os supostos envolvidos na tentativa de saída dos mais de um milhão de dólares.
São, afinal, cidadãos estrangeiros, sobre- tudo originários da Guiné-Conacri, e um angolano que facilitou a passagem do montante. Pode existir mais implicados, claro, porque nos tempos que correm conseguir tal maquia em espécie não é obra para comuns mortais, daí que a tese de que existam outros graúdos facilmente pegue no seio dos que recebem muitas informações sem as filtrarem.