Já era previsível. Depois do discurso sobre o Estado da Nação, feito na passada Segunda-feira, 16 de Outubro, a sociedade angolana estaria toda ela virada para a análise daquilo que foi dito por João Lourenço, sobretudo numa fase destas de crise económico-social em que muitos de nós acreditamos até em soluções milagrosas e repentinas.
Na véspera, numa conversa que manteve com este jornal, o cientista político Sérgio Dundão, por sinal presidente da Associação de Ciência Política Angola, profetizara que o Presidente angolano tinha um estilo próprio que passava por apresentar as acções e obras realizadas, assim como aquelas em que se vai envolver nos próximos tempos.
Na segunda-feira, em mais de uma hora, João Lourenço desdobrou-se entre as questões ligadas à saúde, economia, finanças públicas, educação, agricultura, administração pública, política e segurança pública, obras públicas (com a construção de casas, aeroportos, estradas..), energia e água, democracia e, igualmente, relações internacionais.
Em suma, aquelas que são as questões mais candentes da vida política angolana acabaram por estar respaldadas no discurso, embora se compreenda desde já que muitos, entre cidadãos, políticos e até mesmo entidades religiosas e outras, esperavam escutar de outro modo.
Ou se calhar, daquele jeito que muitos preferem encarar, isto é, curto e grosso, o que de igual modo não deixaria de levantar também debates em relações a aclaração dos temas que fossem elencados.
Por estes dias, por exemplo, a discutível questão das autarquias, também realçadas pelo Presidente, veio à tona, com o Chefe de Estado a atirar a bola aos parlamentares, que há muito tempo não conseguem encontrar um consenso para se ultrapassar o impasse que se instalou a nível do próprio Pacote Legislativo Autárquico.
O que não disse o Presidente? É a questão que se levanta por estes dias, uma situação que vai permitir com que os diversos actores em debates nos órgãos de imprensa e noutras plataformas dirão sobre o que esperavam na manhã desta última segunda-feira Mais do que qualquer omissão em relação a determinados temas, que não nos parece ser o caso, o que alguns críticos e até mesmo indivíduos que se identificam com os propósitos que vão sendo defendidos por João Lourenço e pares queriam era escutar o que o Presidente disse de uma outra forma.
Certamente, alguns esperavam ouvir que o preço dos produtos da cesta básica iria reduzir dentro de X ou Y tempo, o câmbio iria recuar para os mínimos dos seus primeiros anos de mandato, os problemas da saúde estariam ultrapassados, se calhar, a partir desta semana, ou ainda que a situação da água, energia, telecomunicações e os níveis de segurança fossem estar estabilizados já, já.
Mas, a verdade é que muitas das dificuldades que esperamos ver resolvidas, urgentemente, dependem igualmente de inúmeras variáveis, algumas das quais o Presidente sozinho, nem com uma varinha mágica, conseguiria solucionar a partir de um discurso, que já se sabe não é possível agradar a gregos e troianos numa mesma tirada.
Agora que venham os demais discursos – e as posiçõespara que se possa aferir até que ponto se terá faltado ou não aos temas que muitos pensam que o Presidente não terá dito.
Para além da celeuma, os indicadores apontam que a democracia vai dando os seus passos. Num ‘inner circle’ em que se incluem o Presidente da República, seus opositores, sociedade civil e os cidadãos que hoje se sentem no direito de dizer o que pensam.