É de hoje…O jogo mudou…

Poucos serão os africanos que não se sentiram indignados com a notícia sobre uma possível suspensão de um financiamento norte-americano para um programa de circuncisão em Moçambique.

Ainda creio que se trate de uma fake news, mas também não espanta se estejamos mesmo diante de algo verdadeiro, num continente em que o horror de prioridades dos seus governantes torna-se cada vez mais assustador. É provável que estes e outros programas, alguns dos quais tidos por muitos como aberrantes, existam.

África, há muito, tornou-se extremamente dependente de vários sectores, serviços e financiamentos, até mesmo de programas que podem ser suportados pelos seus estados, cujos responsáveis, contrariamente, acabam por adquirir mansões, jatos particulares e outros itens de luxo nestes países, de que estendem a mão para apoios em necessidades como a circuncisão. Muitos dos líderes que se encontram no poder assim agem.

Outros que estão há pouco tempo também o fazem. E até mesmo meros aspirantes não perdem este desejo desenfreado de se verem circular nas grandes avenidas em Washington, Lisboa, Paris, Tokyo e outras, onde acabam por encaminhar parte significativa das suas fortunas, muitas das vezes adquiridas a custo de sacrifício dos seus habitantes, militantes e simpatizantes.

Por conta de um desaguisado interno, há alguns anos, um político angolano dizia, em alto bom-tom, que se iria queixar aos americanos caso não visse os interesses atendidos ou então da sua colectividade. Infelizmente, tem sido assim.

Antes mesmo de se esgotarem as soluções internas, muitos políticos africanos olham de antemão para o ocidente como a boia de salvação de todos os seus problemas. ‘Now the game change’, ou seja, o jogo mudou.

A promessa mirabolante de Trump de tentar fazer da América grande de novo passa por olhar necessariamente para o interior do seu país, que, apesar de desenvolvido, também enfrenta uma série de problemas, alguns dos quais acabam até por ultrapassar os nossos níveis de compreensão.

As alterações que vão ocorrendo a nível da geopolítica mundial, um mês depois da investidura de Donald Trump, obrigarão com que os líderes africanos, principalmente, criem uma estratégia para que sejam eles os primeiros e principais impulsionadores das mudanças internas nos seus países em vários domínios.

Felizmente, apesar dos inúmeros problemas que possa viver, África não é um continente pobre. Tem sido, em muitos casos, um continente mal gerido, influenciado e pouco compreendido até mesmo pelos seus. Se se consegue criar bilionários, milionários e outros novos ricos, muito por conta das suas riquezas, também é possível que se faça com que os seus habitantes possam ter o mínimo para viver.

Sem recorrer aos outros estados ou, pior ainda, às organizações não-governamentais para que os cidadãos consigam o mínimo para comer ou até acesso à circuncisão, um processo que, até nas sociedades mais tradicionais das nossas aldeias e vilas, sempre teve soluções saudáveis e baratas.

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