As duas últimas semanas foram prenhes de cerimónias de outorgas. Centenas, senão mesmo milhares de estudantes, receberam os seus canudos e muitos deles poderão constar da vasta lista de desempregados que o país ainda, infelizmente, possui.
Muitos dos novos licenciados são maioritariamente ligados às ciências humanas. Há muito que se vai observando um certo divórcio com as ciências exactas, por sinal uma das áreas de que o país carece de quadros.
Curiosamente, também são poucos os que se habilitam, por exemplo, aos cursos ligados às ciências agrárias, um dos maiores mercados de emprego e uma das áreas que nos últimos tempos vai recebendo mais investimentos e recursos até mesmo do próprio Estado.
Mesmo se sabendo que a agricultura é um dos pilares do desenvolvimento, assiste-se hoje a um certo desinteresse, sobretudo da juventude, aos cursos ligados à área, apesar de todas as vantagens que de lá podem advir.
Essa tendência de se ver o campo como algo de outro mundo fez-me recuar a um dia em que me senti diminuto depois de ter observado a conversa entre dois jovens na província de Benguela.
Participávamos todos no fórum Negócios e Conectividade, quando num dos intervalos os dois rapazes, com pouco menos de 30 anos de idade, falavam da produção de alho que possuíam num dos municípios do Huambo, que antes mesmo da colheita já estava praticamente vendida.
Enquanto milhares de jovens se afunilam nas filas de desempregados, muito por conta também das opções que vão fazendo a nível do ensino superior, do outro lado há quem esteja a prosperar no campo, onde hoje se sabe que os produtos são adquiridos até mesmo antes da sua colheita.
Há poucos dias, uma reportagem mostrou dezenas de congoleses democráticos que se deslocam e acampam regularmente no Dombe Grande para adquirirem feijão que levam à República Democrática do Congo.
Seguramente, são jovens como os dois meninos que conversavam em Benguela que os plantam, vendem, conseguem dinheiro e sustentam as suas famílias sem terem de constar da lista de desempregados que o país possui.
Não sei como, mas há de facto necessidade de se incutir nos jovens e não só as possibilidades que a agricultura pode proporcionar e retirar-se de muitos a impressão de que se trata de uma actividade que não agrega muitas vantagens principalmente a quem quer começar a sua vida.
Afinal, nós comemos todos os dias, vestimos e bebemos graças a muitos cidadãos que fizeram do campo a opção das suas vidas.
Naquele dia, em Benguela, depois de ter escutado, sem querer, a conversa entre os dois jovens agricultores senti que, afinal, a vaidade das cidades podem ser diluídas pela força de quem trabalha a terra com paixão e afinco.
E está aí um grupo de rapazes que vão construindo riqueza com os esforços dos seus braços e aposta que fizeram na terra sem grandes preocupações. E o país agradece.