Diziam chamar-se Esaú e vivia nas proximidades do mercado dos Congolenses. Foi um anónimo para muitos. Mas, para os mais informados, é o jovem que recentemente decidiu desenterrar e cortar um cabo de energia de alta tensão que pretendia vender algures na sua zona.
O jovem acabou com mais de 90 por cento do corpo queimado. Vimo-lo, depois do incidente, deitado numa cama, com o corpo completamente ligado, respirando com ajuda de aparelhos e quase sem vida depois da ousadia protagonizada, apesar dos apelos de algumas pessoas que desejavam dissuadi-los da pretensão.
Há poucos dias, num encontro com amigos, antes mesmo de se saber do passamento físico do jovem, um deles avançou que dificilmente o malogrado recuperaria tendo em conta as consequências da queimadura.
Brincando, o meu companheiro atirou: ‘ imagine quando ele fosse ver a sua cara no espelho completamente desfigurado como resultado da ousadia de ter tentado retirar cobre de um cabo de alta tensão ligado’.
Qualquer morte deve ser lamentada. Independentemente de quem se trate. Seja ele angolano ou não. A do jovem Esaú deixou-nos ainda mais chocados por se tratar de alguém que não teve sequer a noção do perigo que um cabo de alta tensão poderia representar na vida dele. Mas Esaú não é o único.
Todos os dias dezenas ou até mesmo centenas de jovens colocam as suas vidas em perigo à procura de metais variados e outros objectos ferrosos que são vendidos maioritariamente em casas dominadas por empresários estrangeiros.
Ao mesmo tempo, enquanto do outro lado um grupo critica de forma incessante o Executivo por não ter ainda provido para os cidadãos energia, água e outros serviços completamente, os que se dedicam ao roubo destes meios acabam por perigar ainda mais esses desideratos.
Afinal, furtando um cabo, retirando fios ou ainda derrubando postes como vimos há pouco tempo, um pouco por todo o país, acaba por comprometer o fornecimento de energia aos demais cidadãos.
A morte do jovem deveria servir de chamariz para que os demais usurpadores de bens públicos tivessem noção das consequências que poderão ter caso continuem a agir nos moldes em que actuam.
Seria bom que não acontecesse, mas a forma como se atiram em tudo que é metal ou cobre, desconhecendo se se tratam de condutores com energia, ainda nos permitirá observar outros acontecimentos.
Quem circula pelas centralidades, por exemplo, apesar de todo o esforço feito pelo Executivo, quase que não consegue ver uma única cabine de energia ou telefónica com a respectiva porta.
Quase todas foram furtadas, muitas das quais em plena luz do dia.