Angola e a China assinalaram ontem, Quinta- feira, 12 de Janeiro, 40 anos desde o restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países.
Situados em pontos diametralmente opostos do planeta, ainda assim esse facto não os afastou nem serviu de constrangimento para a aproximação entre os dois povos. Sempre houve, desde cedo, um interesse em estender as mãos aos povos africanos, incluindo na fase em que muitos dos actuais Estados independentes se encontravam sob o jugo colonial.
São vários os relatos de apoios dados aos movimentos, incluindo à formação até de integrantes da própria UNITA, quando estes decidiram se lançar na luta armada. Foi lá que tiveram as primeiras formações, incluindo o seu líder fundador, num grupo de que restaram uns poucos ‘conjurados’.
Entretanto, foi já na fase pós- conflito, isto é, depois de 2002, quando o país alcançou a paz, que a relação entre os dois países se veio a solidificar com o colossal apoio financeiro dado ao necessário processo de reconstrução nacional.
Apesar dos tempos, assim como algumas relações que se vão redefinindo com outras potências do chamado Ocidente, havia a promessa da comunidade internacional que após o conflito armado se realizasse uma conferência de doadores que pudesse ajudar a reerguer o país. Por se explicar, ainda estarão as razões de fundo que fizeram com que esta conferência não tivesse acontecido nos moldes esperados. Para além dos discursos bonitos e alguns supostamente moralizadores, não houve quase mobilização nenhuma no sentido de proporcionar aos angolanos apoios suficientes para que se reconstruíssem as infraestruturas destruídas até por armas fornecidas por alguns deles e dar assim impulso ao processo de recuperação económica e social.
O recurso ao amigo chinês foi o caminho acertado pro- curado pelo antigo Presidente José Eduardo dos Santos. E isso permitiu que se iniciasse o processo, embora a condição ‘chave na mão’ e a introdução excessiva de uma mão-de-obra deste país não tenha agradado a muitos. Porém, com a alta que se observava no mercado do petróleo, o principal produto de exportação para este país, não houve como descurar a ‘oferta’ bilionária, que nalguns casos em mãos incertas.
Porém, não nos esqueçamos que nas duas últimas décadas, até mesmo países ocidentais que criticavam a opção angolana, entre os quais até mesmo europeus, capitalizaram-se usando os mesmos fundos de que diziam que a África não deveria ter acesso por supostos desrespeitos de liberdades individuais e práticas não democráticas. Os 40 anos de relações, como frisou esta semana, em Luanda, o embaixador chinês em Angola, Gong Tao, demonstram já alguma maturidade se se tratar de um indivíduo com a mesma idade. Já se sabe para aonde vai. E diferente dos anos anteriores, quando se procurou bater a porta para sairmos do aperto, Angola claramente que já conhece quem é o ‘amigo chinês’. O que lhe permite estabelecer, hoje, uma relação que seja vantajosa para os dois lados. Sem condicionalismos nem cedências desnecessárias.