Se não for, para muitos Zango é mesmo a terra prometida. É ainda, nos últimos tempos, das poucas parcelas da província de Luanda onde se pode encontrar um espaço para erguer uma residência e também um dos poucos a nível do país que vai registando um acentuando crescimento populacional, económico e também social. Visitei-o ainda nos finais da década de 90.
Naquela fase em que eclodiu a problemática da desmobilização dos populares que habitavam nas barrocas da boavista, aí no Sambizanga, um acontecimento social que mobilizou inúmeras organizações não-governamentais, fez nascer novas figuras da sociedade angolana, assim como teve os aproveitamentos que qualquer partido da oposição nunca iria desperdiçar. poucos se lembrarão de quem foi José rasgadinho. Muitos nem sequer imaginam de quem se trata.
Outros saberão de antemão, à partida, que rasgadinho, cujo rosto desapareceu do quotidiano, foi um dos mais activos activistas quando se iniciou o processo de deslocamento de populares da boavista para o Zango, uma caminhada em que posteriormente seguiram populares de outros bairros de Luanda, principalmente aqueles em que o Executivo angolano tencionava intervir para a construção de estradas, valas de drenagem, linha férrea e até mesmo infra- estruturas escolares e habitacionais. receosos pelo futuro, no início dos anos 2000 ser enviado para o Zango se parecia a um desterro.
Era o que se vendia na altura, sobretudo por causa das condições existentes, o que fazia com que até mesmo políticos da oposição e responsáveis de organizações não-governamentais alardeassem para o mundo que se estava a cometer um crime porque se acreditava que a referida área estava longe de ser um local habitável. Os anos se passaram.
O tempo vai mostrando que a deslocação de muitos do centro para esta parte de Luanda foi mais uma salvação do que o pecado que se pintava. Aliás, não há qualquer comparação entre os espaços em que muitos habitavam nas barrocas do Miramar, boavista e noutras partes de Luanda com as casas que encontraram ao longo do Zango 1, 2, 3, 4 e 5 ou até mesmo nos bairros adjacentes que aos poucos também vão recebendo milhares de cidadãos provenientes de outros pontos do país.
Apesar de todo o crescimento, um dos maiores problemas na circunscrição tem sido o acesso. Há apenas uma única via em que os milhares de cidadãos, diariamente, percorrem para ter acesso às suas residências, de familiares, locais de trabalho ou ainda aos pontos turísticos aí existentes, como Calumbo, mais distante, ou, se calhar, até mesmo à Dira, para muitos. Sempre que se conversa com um dos habitantes — ou se desloca à zona nas horas de ponta — a questão dos acessos vem à baila.
Quer se queira ou não, é uma questão premente que exigia por parte das autoridades uma solução rápida e acertada. Felizmente, tudo indica que o Governo provincial de Luanda escutou os clamores daqueles que lá habitam. E fala-se mesmo na construção de novas vias e na reabilitação de algumas já existentes. E com isso, seguramente, Manuel Homem e a sua equipa saem a ganhar, assim como o timoneiro do Executivo, que nos próximos tempos se deverá deslocar à Terra prometida do Zango para entregar o novo hospital local.