Os comentários do empresário brasileiro Cleber Correa, num debate realizado, recentemente, pela Tv Zimbo, despoletou inúmeras interpretações, havendo alguns que até se mostram favoráveis a uma penalização por ter este feito referências que consideram não abonatórias ao Presidente da República, João Lourenço. Radicado há vários anos em Angola, Cleber tem si- do um dos mais interventivos investidores do sector imobiliário, há alguns anos quase paralisado, e empresário que realiza negócios neste país.
Isto é, à semelhança de outros, não há dúvidas de que tem esperado obter lucros, independentemente das vissicitudes que se vivem. Claro está que o facto de o mesmo estar a investir em Angola demonstra que não se está diante de ‘um país completamente fechado’, sendo que, nos últimos anos, houve melhorias ao nível da Lei de Investimento Privado e outras garantias que têm sido colocadas à disposição daqueles que se interessam pelas potencialidades de Angola.
E a diplomacia económica, que vai sendo feita pelo Executivo angolano, embora ainda não tenha atingido o apogeu, é, sim, uma tarefa que deve continuar a ser levada a cabo pelo Presidente da República, João Lourenço, apesar dos contratempos que se vão observando com a crise económica e financeira, as- sim como a falta de determinadas condições em certos pontos que pudessem convencer ainda mais os investidores.
Como era de esperar, os pronunciamentos do brasileiro, curiosamente na véspera da visita de Lula da Silva, depois de algum tempo de esfriamento das relações entre Angola e o Brasil, não deixaram de criar mossa, causar furor e também coleccionar apoiantes, mor- mente uma franja da sociedade que não vê nas acções do Executivo angolano qualquer mérito.
Longe do Presidente, a quem se quer nesta fase atribuir culpas por tudo, os pronunciamentos do empresário brasileiro levantam uma questão que nós deixamos diariamente e ainda assim pretendemos escamo- tear: a mentalidade e a actuação de muitos quadros angolanos.
Quando se aponta debilidades ao nível da atribuição de vistos, por exemplo, o tempo de espera nos aero- portos, inoperância de alguns serviços administrativos ou ainda a morosidade dos serviços de Justiça, alguns deles estão relacionados à maneira como os próprios profissionais destes sectores se apresentam e a sua produtividade no dia-a-dia.
Não há em alguns casos como afastar o Executivo de determinadas acções, cujos resultados possam parecer desastrosos, mas o exemplo que se vive em muitas instituições públicas – e agora até algumas privadas- indicam que aos poucos nos vamos conformando como o não saber fazer, o famoso espírito de ‘deixa andar’ e a falta de comprometimento com aquilo que é público.
A mudança do ambiente de negócios é um desafio de todos e não apenas do Presidente da República, do MPLA ou daqueles que compõem neste momento o Executivo, como muitas vezes se pretende fazer crer, sem menosprezar a responsabilidade de quem esteja no leme. Mas ela é sobretudo do funcionário que deve chegar cedo e atender convenientemente o utente, daquele que não burocratiza para receber dividendos e muito menos daquele que julga que Angola se vai desenvolver assente na máxima do cada um por si e Deus para todos.
O brasileiro, certamente, enquanto investidor apontou o que julga estar errado. Pode ter havido excesso. Agora, cabe a cada angolano aferir o que tem feito, no seu dia-a-dia, para que a imagem de Angola e os seus serviços melhorem para atrair cada vez mais investimentos. Criticar só não basta.