É recorrente ver muita gente dizer que não dá largas para o futebol praticado em Angola. Ali- ás, não é de espantar quando se observa um leque significativo de cidadãos angolanos que se identificam mais como aficionados ao que se passa nos campos pela Europa e América, não menosprezando aqueles que por força das idas iniciais de Cristiano Ronaldo ao reino da Arábia Saudita e posteriormente de outros craques para a mesma competição.
O futebol sempre movimentou paixões. Em Angola não é diferente. Os últimos acontecimentos na Fede- ração Angolana de Futebol, com a suspensão do Petro de Luanda, do Académica do Lobito e do Kabuscorp do Palanca reavivaram o sentimento que tem anda- do incubado em muitos, soltando-se muitos destes para hoje debaterem sem pruridos os caminhos com que se estão a coser as nossas competições.
Menosprezar as jogadas feitas nos bastidores a nível da primeira divisão ou da segunda seria um contrassenso se se tiver em atenção as várias denúncias que foram surgindo ao longo dos anos, conhecendo-se velhos influenciadores e até mesmo indivíduos que sempre se fizeram apresentar como supostos facilitadores. Num país em que num determinado momento da sua história a corrupção foi encarada como o segundo mal depois da guerra fratricida, espanta de algum modo o coro que se vai entoando, com alguns a quererem apresentar determinadas formações como se de simples anjinhos se tratassem.
Mesmo que se discorde das decisões, sendo que quase todas elas são passíveis de recurso, porém as medi- das da Federação Angolana de Futebol criam em nós a oportunidade de se reforçar a verdade desportiva, que se diga tem sido de algum modo influenciada por clubes e dirigentes desportivos.
Quem acompanha o Girabola há vários anos está consciente de que a existência de alguns dérbis ou encontros históricos a nível nacional e regional adicionam um certo alento na referida competição. É isso que faz com que hoje muitos não vislumbrem sequer uma hipótese de verem um campeonato em que não estejam os tradicionais contendores como o 1º de Agosto, Petro de Luanda, Sagrada Esperança e outros.
E hoje, se se tiver em conta os pronunciamentos de amigos, adeptos e sócios dos clubes penalizados, tem- se a sensação de que se está perante um crime de lesa pátria permitir a sanção em que situação fosse. Para estes, independentemente dos argumentos evoca- dos, não se pode única e puramente tocar nestes clubes por representarem inúmeros cidadãos.
Nesta luta de interesses, opiniões e maldizeres, em que a mais visada tem sido a jurista Patrícia Faria, poucos são os que acreditam num cenário em que hipoteticamente a Federação Angolana de Futebol possa ter razão por se ter fundamentado no áudio que circulou nas redes sociais. Uma situação que repugnou a sociedade e o futebol angolano, fazendo com que muitos exigissem justiça, mas que agora é visto como sendo ‘improcedente’ devido a cor da camisola que cada um veste, mandando para as calendas gregas a verdade desportiva e a imperiosidade da moralização da sociedade. A corrupção não pode ser só vista na perspectiva política, porque, afinal, ela está presente no dia-a-dia em vários domínios e a olho nu.